Tem dias que a gente acredita
numa vida mais bonita
fazer além
de acordar às seis
bater o ponto
repetir o mesmo gesto
manter a fila de produção
até perder o senso crítico
e supor que acaba ali
o nosso papel
esperar o primeiro dia útil
pagar as contas
os empréstimos
se sobrar dinheiro
dá pra pedir comida
pelo delivery
contar os dias para as férias
e fazer aquela viagem
comprada no cartão de crédito
em doze prestações
Tem dias que a gente descobre
a vida não se esgota
nas oito horas diárias
nas quarenta semanais
a gente pode fazer mais
alguma coisa que encante
acenda uma luz pequenina
na mente
no coração de alguém distante
alguma coisa relevante
que nos faça ser lembrado
admirado
que ajude a mudar
o mundo
que nos faça gritar:
eu nasci pra isso
essa é a minha missão
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Durante muito tempo tive medo de aparecer: poucas palavras ditas, nada de fotos, nada de vídeos, nada de exposição da intimidade e dos sentimentos diante de muita gente. Uma postagem como esta então seria impensável poucos anos atrás. E, ao mesmo tempo que desejava conquistar outros leitores e leitoras além da minha mãe, receava exibir os meus escritos.
Estou falando disso hoje aqui porque, à véspera de completar 12.419 dias na Terra, orgulho-me de ter matado parte desse monstro em mim. Para isso, além das parcerias que fiz nos últimos anos, da terapia, da relação com esse pequeno ser ao meu lado na foto, concorreram o meu sonho de escrever, o blog e a entrega a desafios no meu trabalho (e até encontros infelizes por lá).
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‘Como seria bom se eu tivesse um ioiô!’.
Esse é um dos pensamentos de Sara, a personagem principal do livro infantil O giz vermelho, de Iris van der Heide e Marije Tolman (Martins Fontes, 2006).
Toda vez que leio essa história me pego em uma reflexão: não estaríamos nós em uma insatisfação permanente? Eu digo nós porque posso me incluir nesse grupo que, vez ou outra, olha para os objetivos alcançados e, como Raul Seixas naquela canção*, se pergunta: “E daí?”.
Sara inicia a narrativa com um giz vermelho, deseja fazer desenhos no chão com ele, porém é desencorajada pelo piso irregular. Ela então encontra um menino brincando com bolas de gude, se interessa pelo brinquedo e propõe uma troca. Assim a menina percorre todo o livro, reparando que o objeto em suas mãos não tem a graça que ela imaginava e cobiçando o brinquedo de outra criança.
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Um café,
dois,
três.
Novo ofício,
e-mail,
telefonema,
despacho para não sei onde,
reunião com não sei quem.
Espero as 17 horas,
espero o fim de semana,
espero as férias,
espero o Natal,
espero outro ano começar.
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