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03 de novembro de 2021

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Peça da engrenagem

Tem dias que a gente acredita
numa vida mais bonita
fazer além
de acordar às seis
bater o ponto
repetir o mesmo gesto
manter a fila de produção
até perder o senso crítico
e supor que acaba ali
o nosso papel
esperar o primeiro dia útil
pagar as contas
os empréstimos
se sobrar dinheiro
dá pra pedir comida
pelo delivery
contar os dias para as férias
e fazer aquela viagem
comprada no cartão de crédito
em doze prestações 

Tem dias que a gente descobre
a vida não se esgota
nas oito horas diárias
nas quarenta semanais
a gente pode fazer mais
alguma coisa que encante
acenda uma luz pequenina
na mente
no coração de alguém distante
alguma coisa relevante
que nos faça ser lembrado
admirado
que ajude a mudar
o mundo
que nos faça gritar:
eu nasci pra isso
essa é a minha missão

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25 de novembro de 2020

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O giz vermelho e a insatisfação permanente

Por Eriane Dantas

‘Como seria bom se eu tivesse um ioiô!’.

Esse é um dos pensamentos de Sara, a personagem principal do livro infantil O giz vermelho, de Iris van der Heide e Marije Tolman (Martins Fontes, 2006).

Toda vez que leio essa história me pego em uma reflexão: não estaríamos nós em uma insatisfação permanente? Eu digo nós porque posso me incluir nesse grupo que, vez ou outra, olha para os objetivos alcançados e, como Raul Seixas naquela canção*, se pergunta: “E daí?”.

Sara inicia a narrativa com um giz vermelho, deseja fazer desenhos no chão com ele, porém é desencorajada pelo piso irregular. Ela então encontra um menino brincando com bolas de gude, se interessa pelo brinquedo e propõe uma troca. Assim a menina percorre todo o livro, reparando que o objeto em suas mãos não tem a graça que ela imaginava e cobiçando o brinquedo de outra criança.

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20 de outubro de 2020

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Não sinta

Por Eriane Dantas

Um ponto
é qualquer dor minha
diante dos males do mundo,
queixas não cabem nesta vida.
Então àquela no espelho eu ordeno:
não sinta!
Ainda assim eu sinto,
sinto,
sinto,
sinto.

Coisa doida é reparar
no que se sente.
Aquela marca encolhida lá dentro
acha uma brecha,
se exibe,
parece se colar à pele,
de onde a vista não se desvia.

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28 de julho de 2020

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Outra versão da vida

Por Eriane Dantas

Um café,
dois,
três.
Novo ofício,
e-mail,
telefonema,
despacho para não sei onde,
reunião com não sei quem.

Espero as 17 horas,
espero o fim de semana,
espero as férias,
espero o Natal,
espero outro ano começar.

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