Arrepiam-me a apatia a conivência com a barbárie a comemoração da dor do outro
Por que não incomoda se o outro passa fome padece tem a vida ceifada?
Por que o próximo sempre merece os males mesmo causados por terceiros?Continue lendo
Arrepiam-me a apatia a conivência com a barbárie a comemoração da dor do outro
Por que não incomoda se o outro passa fome padece tem a vida ceifada?
Por que o próximo sempre merece os males mesmo causados por terceiros?Continue lendo
Presa em casa
não aguento mais um dia,
nem tanto por me isolar,
às vezes não faz mal
não ter que ver o mundo.
Prefiro esse mundo que vejo
da varanda:
o céu azul,
as nuvens quebrando o monocromático,
os passarinhos no alto
brincando de voar.
Não aguento mesmo
é o mundo lá fora.
Enquanto uns fecham as portas
de casa,
outros se juntam para ir à praia,
à festa,
a monumentos
que jamais se interessaram
em visitar.
‘Como seria bom se eu tivesse um ioiô!’.
Esse é um dos pensamentos de Sara, a personagem principal do livro infantil O giz vermelho, de Iris van der Heide e Marije Tolman (Martins Fontes, 2006).
Toda vez que leio essa história me pego em uma reflexão: não estaríamos nós em uma insatisfação permanente? Eu digo nós porque posso me incluir nesse grupo que, vez ou outra, olha para os objetivos alcançados e, como Raul Seixas naquela canção*, se pergunta: “E daí?”.
Sara inicia a narrativa com um giz vermelho, deseja fazer desenhos no chão com ele, porém é desencorajada pelo piso irregular. Ela então encontra um menino brincando com bolas de gude, se interessa pelo brinquedo e propõe uma troca. Assim a menina percorre todo o livro, reparando que o objeto em suas mãos não tem a graça que ela imaginava e cobiçando o brinquedo de outra criança.
Continue lendoUm ponto
é qualquer dor minha
diante dos males do mundo,
queixas não cabem nesta vida.
Então àquela no espelho eu ordeno:
não sinta!
Ainda assim eu sinto,
sinto,
sinto,
sinto.
Coisa doida é reparar
no que se sente.
Aquela marca encolhida lá dentro
acha uma brecha,
se exibe,
parece se colar à pele,
de onde a vista não se desvia.