Ivan Ilitch vive uma vida normal e bem-sucedida do ponto de vista da sociedade: tem um bom emprego e uma família. Então vai seguindo até perceber que talvez sua vida não seja tão feliz. Em vez de reclamar ou tentar mudar o seu destino, entretanto, ele escolhe se acomodar e se entregar ao trabalho, o seu escape.
Isso muda quando é acometido de uma doença mortal, de uma dor lancinante, que vem e traz a solidão, o medo da partida. Ao contrário do que se espera, sua família e seus amigos lhe viram as costas — sua esposa chega a torcer por sua morte. Com isso, ele começa a se questionar sobre sua existência: fez o que era certo, mas será que viveu como deveria ter vivido?
Tenho pensado (já há um bom tempo) a respeito desse aspecto: a vida é isso mesmo? Ou há algo mais a ser vivido? Esse questionamento, por vezes, se interrompe quando encontra a ideia de que não devo reclamar; devo ser grata pelo que tenho, por tudo o que me acontece (até pelos fatos negativos).
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- Título Original: Capitães da areia
- Gênero do Livro: Romance
- Editora: Companhia das Letras
- Ano de Publicação: 2009
- Número de Páginas: 280
Sinopse: Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.
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“Prenda o leitor já na primeira frase” — essa dica não falta quando se trata de orientações para criar narrativas ficcionais. Embora de difícil execução, o conselho se sustenta quando se analisa a concorrência que se impõe aos livros (por exemplo, outros livros e as redes sociais), além da falta de tempo de que todo mundo se queixa. Uma obra que capta a atenção do leitor no primeiro encontro tem mais probabilidade de não se ver revendida num sebo ou esquecida numa estante.
Em caso de livros ou autores célebres, essa característica pode não ter tanto peso. Mesmo que o início não seja tão cativante, a validação prévia da obra nos leva a acreditar que logo adiante nos depararemos com aquele tchã, aquele aspecto que faz a obra aparecer em listas de indicações.
Entre mim e Capitães da areia ocorreu algo desse tipo. A minha leitura do livro começou arrastada, como se ele e eu não tivéssemos ainda nos conectado. Por isso, o deixei por uns dias, troquei-o por outros, fingi que não o via.
Afora o fator que descrevi no parágrafo anterior, sou persistente nas leituras (sinto-me mal por largar alguma pela metade e só o faço depois de avançar por muitas e muitas páginas). Então resgatei esse romance da mesa de cabeceira. Foi aí que o match aconteceu.
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De domingo para cá, vi tantas postagens de luto, feitas até por conhecidos e conhecidas que eu considerava conscientes. Elas retratam um Deus triste com o resultado das eleições no Brasil e se perguntam qual será o futuro do país. Vi cenas de gente vestida de verde e amarelo em meio a orações e lágrimas. Vi imagens de pessoas bloqueando estradas e pedindo intervenção militar.
Eu não entendo.
O candidato perdedor, que infelizmente ainda é o presidente do país, defende a liberação de armas e o fuzilamento de quem o critica, já declarou que sua especialidade é matar e anda com gente que não aprecia muito a paz (vide o cara que atirou em policiais e a mulher que perseguiu uma pessoa na rua com arma em punho).
Esse mesmo candidato apostou na mentira, no medo, na guerra, na desunião, em narrativas repetitivas (comunismo, corrupção, ideologia de gênero, aborto).
Ele não se esforçou para conter o novo coronavírus, nem se solidarizou com as famílias que perderam entes queridos para a doença. Pelo contrário, debochou de gente sem respirar, fez questão de sair às ruas e de incentivar a aglomeração durante a pandemia.
Homenageou um torturador em seu voto no golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, disse que uma deputada não merecia ser estuprada por ser feia, falou grosso com jornalistas, julgou que meninas de 14 e 15 eram prostitutas porque são venezuelanas e se arrumavam em um sábado à tarde. Para completar, declarou que “pintou um clima” entre elas e ele (um idoso de 67 anos de idade).
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Arrepiam-me
a apatia
a conivência com a barbárie
a comemoração da dor
do outro
Por que não incomoda
se o outro
passa fome
padece
tem a vida ceifada?
Por que o próximo
sempre merece
os males
mesmo causados
por terceiros?
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