Sinopse: Este livro tematiza a saga real de famílias rurais piauienses, sem terra e sem outras posses maiores, na dura estrada da vida. De pessoas que, deserdadas de berço de ouro, tiveram que inventar maneiras das mais diversas para (re)existir. Existir e resistir a tempos duríssimos de seca, de pobreza, de violência, de abandono. De mulheres que tiveram quase todos os seus caminhos vetados pelo machismo, princípio norteador das vidas e sociabilidades no meio rural piauiense. Portanto, é um livro das histórias humanas possíveis, em contextos exigentes. Algumas delas – histórias impossíveis – apenas tornadas realidade pela força e determinação dos sujeitos. Não obstante, é um livro de esperança. Ao fim, é possível ver que, por mais que todas as evidências apontem o contrário, há a possibilidade de se construir um caminho promissor.
O baú de Faustina se revelou para mim no primeiro dia da 3ª Feira Literária de Barra Grande, em Cajueiro da Praia, Piauí, em 27 de junho de 2024, em um dos bate-papos de lançamento de livros. Sua criadora, Valéria Silva, professora universitária que eu ainda não conhecia, lançava ali o livro de poesias Acenos da alma, e o mediador comentou sobre sua obra anterior.
No dia seguinte, participei de uma roda de conversa acerca da literatura produzida por mulheres, na qual se encontrava Valéria Silva, entre outras mulheres. Terminada a conversa, ela se aproximou de mim e me presenteou com um exemplar de O baú de Faustina, como se adivinhando o interesse que havia nascido em mim no dia anterior. Na dedicatória, ela desejou que a leitura me suscitasse “encontros identitários vários”. E eu posso adiantar que o desejo se realizou.
Sinopse: Esperança Garcia foi uma mulher que viveu escravizada em meados do século XVIII, no Piauí. No dia seis 6 de setembro de 1770, ela escreveu uma carta para o governador de sua província, denunciando os maus tratos que sofria constantemente e solicitando providências.
Sua carta é uma das diversas manifestações espontâneas dos negros contra a escravidão, em sua luta pela liberdade. Trata-se de um registro histórico e literário, considerado um dos primeiros textos afro-brasileiros de que se tem conhecimento. É considerada uma petição pública e, por causa dela, o Governo do Estado do Piauí determinou que, no dia 6 de setembro, seja comemorado o dia estadual da consciência negra. Além disso, a Ordem dos Advogados do Brasil reconheceu Esperança Garcia como a primeira advogada do país.
Enquanto a saraivada de pau corria em seu corpo, Esperança achou que iria morrer, mas lutou, procurando não demonstrar nenhuma fraqueza ou sinal de dor (LUIZ; AURÉLIO, 2023).
Entre os dias 29 de junho e 1º de julho de 2023, participei da 2ª Feira Literária de Barra Grande, em Cajueiro da Praia, Piauí. Fui apresentar o meu livro Os nós em mim e voltei com a bagagem cheia de novas histórias e novos conhecimentos.
A feira homenageou Esperança Garcia. Antes disso, eu já tinha visto que ela seria tema também do Salão do Livro do Piauí (Salipi), que acontece em Teresina neste momento e vai até o dia 20 de agosto.
Na Feira Literária de Barra Grande, percebi que pouco (para não dizer nada) sabia a respeito de Esperança Garcia. Essa constatação ganhou força quando acompanhei uma palestra de Elio Ferreira de Souza sobre a carta que Esperança escreveu e ouvi outro escritor falar sobre ela.
O outro escritor é João P. Luiz, que publicou a história em quadrinhos A voz de Esperança Garcia, em parceria com Bernardo Aurélio.
Já ouviu falar em um gigante de mais de duzentos anos que vive no litoral piauiense, mais precisamente no município de Cajueiro da Praia?
Batizado de Cajueiro-Rei, essa árvore centenária foi reconhecida, em 2016, como o maior cajueiro do mundo, com base em estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os pesquisadores analisaram as folhas de diferentes locais da planta, fizeram medições da área e do perímetro ocupado por ela e, com isso, provaram que, embora pareça se tratar de uma porção de árvores juntas, ali há um único pé de caju com diversos troncos.
Ser piauiense é estranhar com freqüência a pecha da pobreza, do calor insuportável, do imenso curral, do rústico corredor de passagem; é ter que ouvir aqueles de ‘fora’ a perguntar: como se fala, o que se faz, quem é o conhecido de lá’ (Rabelo, 2008, p. 14, sic).
“Você conhece o Pedro?” — alguém questionou certa vez, ao saber que nasci e morei na capital do Piauí por quase doze anos. Eu respondi que não, mas por dentro minha resposta não foi tão calma assim. Que diabo de pergunta era aquela? Como poderia conhecer um ser humano, identificado apenas como Pedro, em uma cidade com milhares de habitantes?
Em um momento anterior, outro alguém me perguntou se havia carros nas ruas de Teresina, talvez com uma imagem semelhante àquela que os estrangeiros têm dos brasileiros: a de que vivemos como o Tarzan, em meio à Floresta Amazônica. Mas sobre o Piauí a imagem talvez seja a de ruas atravessadas pelo gado.
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