Revi essa foto na casa dos meus pais dias atrás, uma foto impressa, do tempo em que revelávamos nossas fotografias e as guardávamos em álbuns de papel.
Essa imagem desbloqueou a memória da infância e pré-adolescência. Por isso, tirei uma foto da foto para guardar comigo, no meu arquivo eletrônico.
Esse aí, todo posudo, era o meu melhor amigo daquela etapa da vida — e isso não é mero clichê. Ele era quem me acompanhava em passeios pelas ruas do bairro, em brincadeiras solitárias.
Olhando em retrospecto, eu era uma criança introvertida (não que isso tenha mudado tanto com o tempo). A diferença de quatro anos entre minha irmã e eu quase sempre nos colocou em fases diferentes, com interesses diferentes, à medida em que crescíamos. E meus maiores interesses ficavam circunscritos ao espaço da casa (tevê e criação de histórias) ou das proximidades (leitura de textos bíblicos na missa semanal e passeios com ele).
Três coisas que você não sabia. Cinco coisas que não te contaram. Dez coisas que não querem que você saiba. Quinze coisas que você precisa aprender. Vinte coisas que você deve (ou não) fazer. Trinta livros que você deve ler. Cem filmes que você não pode perder. Já topou com um desses títulos pela internet?
Seus autores compartilham dicas para emagrecer, empreender e ganhar dinheiro e episódios da vida pessoal de celebridades. Desvendam segredos da indústria farmacêutica, das religiões, de hotéis, de restaurantes, do sistema financeiro, do governo. Abordam fatos aleatórios, conhecimentos sobre o céu, a terra, a água e o ar, sobre pré-história, geopolítica, mudanças climáticas etc. etc. etc.
A toda hora, alguém nos acusa de desinformados e se dispõe a nos transmitir ensinamentos. Mesmo sem nos conhecer, os criadores dessas listas sabem o que não sabemos e o que necessitamos saber. Especialistas, detentores de dados secretos, inimigos das conspirações, eles generosamente partilham aquilo que ninguém mais quer que descubramos.
Mente obstinada
workaholic assumida
nem sempre ao meu favor
às vezes melhor amiga
outras me dá rasteira
parece me odiar
Gira ao redor do rabo
profere insanidades
traz lembranças que eu não quero lembrar
Não me conta a senha do banco
não me sopra a letra da música que amo
nem o nome do filme que quero indicar
e me sussurra um fato de dez anos atrás
Peço pra me inspirar uma história
ela me dita uma catástrofe
não vai dar certo
a casa vai cair
o teto vai ruir
você vai tropeçar
sua voz vai falhar
ninguém no mundo vai curtir
é só isso o que ela diz
Em mim só manda um rei: o que constrói as pontes e destrói muralhas (Sófocles, em Antígona).
Antígona desafia o rei Creonte quando sofre uma injustiça e vai em pessoa ao palácio reconhecer sua desobediência. Não teme o castigo que virá daí; eu diria até que o deseja, pois ele comprova seu repúdio à tirania. “E me parece bela a possibilidade de morrer por isso”, ela declara.
Assim como Antígona, em nome do bem, da justiça, do amor pelos amigos, Miep Gies desobedece às leis nazistas. No seu caso, no entanto, não é ela própria a vítima. Poderia então virar as costas e seguir a vida.
Antígona e Miep são exemplos de personagens (uma real e outra fictícia) que olham de forma crítica para os acontecimentos, não se restringindo àqueles que lhe dizem respeito, e intervêm quando eles ferem a existência de alguém. “Não nasci para o ódio, mas para o amor”, Antígona proclama.
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