"4" Post(s) arquivados na Tag: memórias

04 de agosto de 2020

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[Resenha] Morreste-me

Por José Luís Peixoto

  • Título Original: Morreste-me
  • Gênero do Livro: Novela
  • Editora: Dublinense
  • Ano de Publicação: 2015
  • Número de Páginas: 64
Sinopse: "Morreste-me" foi o livro que revelou o escritor português José Luís Peixoto. Publicada em 2000, é uma obra tocante e comovente: é o relato da morte do pai, o relato do luto e, ao mesmo tempo, uma homenagem, uma memória redentora.
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Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava (p. 17).

Morreste-me é o nome dessa obra de José Luís Peixoto, e seu título delata o impacto que o texto causa no leitor.

José Luís Peixoto é um escritor português cujas obras têm sido premiadas e bem recepcionadas pela crítica literária mundo afora.

Morreste-me é difícil de digerir: traz um tema pesado (com o qual ninguém gostaria de lidar), com uma escrita que potencializa o incômodo do tema.

Em primeira pessoa, o narrador fala da morte do pai, como se com ele conversasse. Relembra os momentos vividos juntos, a aproximação da morte, os ensinamentos do pai, mesclando o passado com o presente: o presente em que o filho não tem mais o pai ao lado.

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16 de julho de 2020

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O bordado pelo avesso

Por Sinval Farias

A viagem prossegue morna e o tempo se estira. A janela do ônibus reflete uma aflição desmedida. Paisagem estorricada, sequidão nos riachos, arremedos de bichos no esboçado dos pastos. O sol do quase meio-dia ignora a maquiagem, retocada de instante em instante. As poucas poltronas ocupadas seguem silenciosas.

Quinze anos sem dar notícias. Uma ligação, a morte da mãe anunciada. Decidiu digerir rancores e reencontrar o sítio materno.

Pela enésima vez, apruma-se na poltrona, revolve os cabelos, recruza as pernas. As horas riscam o azulado do horizonte.

O trajeto remonta a figura do velho pai, olhos ressequidos, sobrancelhas grosseiras. Relembra o dia em que parou a lida e improvisou penteado numa espiga de milho. Apanhou para o resto da vida.

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09 de julho de 2020

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Diáspora

Por Oly César Wolf

Éramos família, ou algo muito similar a isso. Ficávamos sentados à mesa, calados, como se ela fosse um altar onde rezávamos pelo milagre da multiplicação do alimento, que era sempre menor que a nossa fome. Milagre nunca houve. Quanto a nós, bem, nós não. Apenas isso, somente negativa éramos, como vazios escavados na matéria, como ausências encarnadas em corpos magros.

Aqueles eram dias duros que trincavam nossos dentes obrigados a roê-los. Por isso, por não vencermos mastigar a ossatura da nossa miséria, nos contentávamos em lamber o mole silêncio que vertia de nossas bocas semiabertas. Éramos quase pai e quase filho. Espírito não havia, muito menos santo. Mãe, irmãos, também havia, ou quase. Uns desacompanhando os outros, como se perfilados na vida e unidos pelos pés por uma pesada corrente de dias.

Pai morreu, mãe também. Morremos todos naquele lugar, não de morte de fato, mas de insignificância. Éramos mirrados, pequenos de quase não ser.

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10 de março de 2020

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[Resenha] Eu sei por que o pássaro canta na gaiola

Por Maya Angelou

  • Título Original: I Know Why the Caged Bird Sings
  • Gênero do Livro: Biografia
  • Editora: Astral Cultural
  • Ano de Publicação: 2018
  • Número de Páginas: 336
Sinopse: RACISMO. ABUSO. LIBERTAÇÃO. A vida de Marguerite Ann Johnson foi marcada por essas três palavras. A garota negra, criada no sul por sua avó paterna, carregou consigo um enorme fardo que foi aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto através das palavras. Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas de Angelou estão contidas e eternizadas nas páginas desta obra densa e necessária, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos. Com uma escrita poética e poderosa, a obra toca, emociona e transforma profundamente o espírito e o pensamento de quem a lê.
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Li Eu sei por que o pássaro canta na gaiola quase todo dentro de um ônibus, indo ou voltando do trabalho. Ao final, Djamila Ribeiro me advertiu no posfácio que esse é um livro para ser apreciado “em doses, não é algo que se lê de uma vez” (p. 331). Ela tem razão, mas era tarde. Não consegui ler a obra devagar, apesar de sua densidade, e concluí a leitura em poucos dias, pois queria saber o que mais teria acontecido na vida de Marguerite Ann Johnson.

Então ele ficou quieto, e aí veio a parte boa. Ele me abraçou com tanto carinho que desejei que nunca me soltasse. Eu me senti em casa. Pelo jeito como ele estava me abraçando, soube que nunca me soltaria nem deixaria nada de ruim acontecer comigo. […] (p. 94).

A cada parágrafo que eu lia, sentia como se pudesse ver Marguerite em minha frente, falando ou vivendo a cena narrada, como se fôssemos amigas, e eu, sua confidente.

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