O mês de abril é especial para o mundo do livro. Começa com o Dia Internacional do Livro Infantil, no dia 2. Segue pelo Dia Nacional da Biblioteca, no dia 9. Passa pelo Dia do Desenhista, no dia 15. Chega ao Dia Nacional do Livro Infantil e de Monteiro Lobato, no dia 18. E termina com o Dia Mundial do Livro, no dia 23.
O livro é curioso. Sua criação depende do escritor ou da escritora (quer dizer, depende também de mais alguns agentes que trabalham na sua produção). Porém, sua existência só tem significado, sua função só se cumpre quando outro alguém resolve abri-lo, conhecê-lo, avaliá-lo.
Há escritores e escritoras que juram escrever sem pensar nos leitores ou nas leitoras ou sem pretender uma futura publicação. Não sei se acredito. Quem desejasse manter o seu trabalho em segredo escreveria diários, e não livros.
Identidade? O que é isso mesmo? Identidade descreve “algo que é diferente dos demais, porém idêntico a si mesmo” (PUC/RIO, p. 14). Ou seja, é aquilo que nos torna únicos em meio a bilhões de pessoas. É como aquele documento chamado pelo mesmo nome que usamos para provar quem somos.
Identidade é construída individual e socialmente, a partir das características pessoais, da memória coletiva, dos valores culturais etc. É constituída na relação entre sujeito e sociedade, havendo a forma como o indivíduo se identifica e como é identificado pelos outros.
Não é estática, como uma fotografia. Pode se alterar ao longo da vida, influenciada pelas vivências e rupturas, em um processo conduzido pela própria pessoa, embora cada indivíduo mantenha uma essência, um estilo.
Fui criada diante da TV, vendo desde O fantástico mundo de Bob até a banheira do Gugu (e uma porção de outros programas que hoje nos causam espanto). Naquela época, nem sonhávamos com Netflix e redes sociais; não tínhamos um aparelho de videocassete em casa; minha família não tinha condições de encher estantes com livros.
Por falar em livros, além dos didáticos, lembro-me de três lá em casa: Coração de boneca, de Ilka Brunilde Laurito; Os Grandes Líderes: Juscelino, de Geraldo Mayrinck; e Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída, de Kai Hermann e Horst Rieck (que minha irmã e eu encontramos na rua e que, pelo tema, eu nem cheguei a ler). Então, o mundo entrava pelos olhos e pelos ouvidos, com imagens e sons, naquela caixa que tinha o poder de reunir a família na sala.
A atração principal para mim eram as telenovelas, em especial as mexicanas, já que minha mãe nos proibia de assistir às nacionais, incluindo Malhação. Isso não queria dizer que, vez ou outra, minha irmã e eu não déssemos uma espiada em alguma delas (ainda me recordo bem de uma noite em que, por acaso, me vi diante de um televisor que exibia Xica da Silva e de outra noite em que minha irmã e eu nos escondemos atrás do sofá para conferir Pedra sobre pedra — e nem me lembro das cenas em si).
Planejei escrever a respeito das dificuldades da escrita por mulheres. Até retirei da estante Um teto todo seu, de Virginia Woolf, para uma nova leitura, mas nada me veio sobre o que queria escrever. Um trecho do livro me chamou a atenção e me levou para outro rumo.
Quase no final do livro, Virginia Woolf defende:
[…] um gênio como o de Shakespeare não surgia entre pessoas trabalhadoras, sem edução formal, servis. […] Não surge hoje entre as classes trabalhadoras (p. 73).
Em um instante me lembrei daquela famosa afirmação que estabelece a leitura como um pré-requisito da escrita: para escrever bem, é preciso ler.
Tenho a impressão de que a maioria dos escritores e das escritoras formou-se em áreas relacionadas à escrita ou pelo menos se encontrou com a leitura ainda no berço. Sinto-me um pouco deslocada quando leio biografias assim, pois não fiz nem uma coisa nem outra.
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