Ser mãe é padecer no paraíso — dizem as mães com sorrisos nos lábios.
Acho esse ditado um tanto infeliz, além de ineficaz quando se trata de atrair novas candidatas à maternidade. Aliás, nunca compreendi a necessidade que têm as mães de ver todas mulheres do mundo vivendo essa experiência. Se uma mulher confessar, diante de um grupo de mães, que não planeja ter filhos, vai escutar de 95% delas a seguinte resposta: “Ah, mas você tem que ter pelo menos um”. Pode testar!
Quando eu ouvia esse tipo de afirmação, revirava os olhos em pensamento. Primeiramente, porque qualquer frase que comece com “você tem que” não pode terminar bem. Em segundo lugar, se nem eu tenho certeza sobre as melhores escolhas para mim (eu, que vivo em mim há décadas), como outra pessoa terá?
Esse menino cheio de expressões, cheio de estilo, veio ao mundo há exatos 24 meses, antes do nascer do sol.
É engraçado. O nosso primeiro encontro foi também a nossa primeira separação. Ele chegou reclamando, mostrando suas vontades. Seu choro ocupou o espaço e foi interrompido assim que nos aproximamos, como se ele quisesse ouvir o que eu tinha a dizer. Eu nada disse. Só senti sua pele na minha, a sensação de ver de perto um rosto que a tecnologia havia nos antecipado. Era a minha primeira vez ali também, numa sala com tanta luz, com tanta gente ao redor, com tanta volta no estômago. Sua chegada mudou a nossa vida, a rotina da casa, fazendo-nos até mudar de casa.
Já se passaram dois anos e, embora pareça que foi ontem, sinto como se o Joaquim estivesse conosco desde sempre. Incorporou-se à família de forma tão natural, que não existiria mais família sem sua presença.
Falei do Joaquim outras vezes aqui, especialmente de como ele e eu compartilhamos o amor pelos livros. Para além disso, ele proporciona a experiência mais mágica que viverei: a oportunidade de presenciar suas descobertas, sua aprendizagem, de influenciá-las também, de ser parte da formação de um sujeito.
O título deste texto pode ter causado estranhamento. Foi escolhido de propósito para ressaltar um incômodo meu: a definição de livros “adequados” para bebês e crianças pequenas.
Deixo claro, para começo de conversa, que este não é um artigo de uma especialista no assunto. Trata-se da opinião de alguém que se interessa por literatura para crianças, que escreve e vem aprendendo no convívio com um pequeno ser que vai fazer dois anos em breve.
O que venho atestando em minha vivência é que o gosto pela leitura é aprendido/adquirido pelo estímulo, no contato com os livros. Eu sei, essa afirmação é clichê, porém escutá-la é diferente de experimentá-la.
Fui criada diante da TV, vendo desde O fantástico mundo de Bob até a banheira do Gugu (e uma porção de outros programas que hoje nos causam espanto). Naquela época, nem sonhávamos com Netflix e redes sociais; não tínhamos um aparelho de videocassete em casa; minha família não tinha condições de encher estantes com livros.
Por falar em livros, além dos didáticos, lembro-me de três lá em casa: Coração de boneca, de Ilka Brunilde Laurito; Os Grandes Líderes: Juscelino, de Geraldo Mayrinck; e Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída, de Kai Hermann e Horst Rieck (que minha irmã e eu encontramos na rua e que, pelo tema, eu nem cheguei a ler). Então, o mundo entrava pelos olhos e pelos ouvidos, com imagens e sons, naquela caixa que tinha o poder de reunir a família na sala.
A atração principal para mim eram as telenovelas, em especial as mexicanas, já que minha mãe nos proibia de assistir às nacionais, incluindo Malhação. Isso não queria dizer que, vez ou outra, minha irmã e eu não déssemos uma espiada em alguma delas (ainda me recordo bem de uma noite em que, por acaso, me vi diante de um televisor que exibia Xica da Silva e de outra noite em que minha irmã e eu nos escondemos atrás do sofá para conferir Pedra sobre pedra — e nem me lembro das cenas em si).
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