Revi essa foto na casa dos meus pais dias atrás, uma foto impressa, do tempo em que revelávamos nossas fotografias e as guardávamos em álbuns de papel.
Essa imagem desbloqueou a memória da infância e pré-adolescência. Por isso, tirei uma foto da foto para guardar comigo, no meu arquivo eletrônico.
Esse aí, todo posudo, era o meu melhor amigo daquela etapa da vida — e isso não é mero clichê. Ele era quem me acompanhava em passeios pelas ruas do bairro, em brincadeiras solitárias.
Olhando em retrospecto, eu era uma criança introvertida (não que isso tenha mudado tanto com o tempo). A diferença de quatro anos entre minha irmã e eu quase sempre nos colocou em fases diferentes, com interesses diferentes, à medida em que crescíamos. E meus maiores interesses ficavam circunscritos ao espaço da casa (tevê e criação de histórias) ou das proximidades (leitura de textos bíblicos na missa semanal e passeios com ele).
Que impiedoso o tempo
Ele se move, sorrateiro
e eu nem percebo
Aí olho para a cara
do meu filho
e comparo com a foto
de um ano atrás
É o mesmo menino
eu posso notar
no olhar
na boca
no nariz
nos traços que ainda estão lá
Só não encontro mais
o mesmo menino
O rosto tem uma mudança
um quê de amadurecimento
o bebê se foi
o corpo estirou
ele já passa de um metro
Faço então as contas
quatro anos completos
uma copa
uma olimpíada
uma eleição
um censo
uma pandemia
uma guerra
Coube tanto em 1.461 dias
Por aqui
tantas fraldas
tantos sorrisos
tantas lágrimas
tantos porquês
tanto orgulho
tantas chinelas Havaianas
E eu fico com a pergunta:
por que a pressa, tempo?
Cabelo loiro meu artista a alegria da casa o motivo literal desta casa construída Todo dia esqueço a sua idade acho graça nas mesmas frases me admiro com o seu raciocínio espalho por aí suas peripécias peço à memória: mantenha intactos estes momentos
Sucede em meu peito um reboliço se os meus olhos miram sua imagem, os meus ouvidos captam a sua voz numa risada num cumprimento carinhoso numa palavra com letras trocadas
Ser mãe é padecer no paraíso — dizem as mães com sorrisos nos lábios.
Acho esse ditado um tanto infeliz, além de ineficaz quando se trata de atrair novas candidatas à maternidade. Aliás, nunca compreendi a necessidade que têm as mães de ver todas mulheres do mundo vivendo essa experiência. Se uma mulher confessar, diante de um grupo de mães, que não planeja ter filhos, vai escutar de 95% delas a seguinte resposta: “Ah, mas você tem que ter pelo menos um”. Pode testar!
Quando eu ouvia esse tipo de afirmação, revirava os olhos em pensamento. Primeiramente, porque qualquer frase que comece com “você tem que” não pode terminar bem. Em segundo lugar, se nem eu tenho certeza sobre as melhores escolhas para mim (eu, que vivo em mim há décadas), como outra pessoa terá?
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