Quatro anos atrás, nesta data, entrava no ar o blog Histórias em mim, este espaço no qual expresso as histórias do mundo que conheço nos livros e as histórias que saem da minha imaginação.
No início de 2018, andava desconfiada da minha escrita, esta atividade que me segue desde a infância, esta habilidade que (quase) sempre foi uma certeza, mesmo quando não era. Vivia num dilema que ainda me pega vez ou outra: desejava publicar os meus textos; ao mesmo tempo, receava que outras pessoas os conhecessem.
Foi então que uma sugestão chegou até mim: “Por que você não cria um blog literário?”.
À primeira vista, essa pareceu uma ideia sem sentido. Eu não acompanhava blogs, nunca tinha imaginado me tornar uma blogueira, não sabia sequer como criar e manter uma página na internet. Sem falar que, com o excesso de informações e redes sociais, o fracasso seria o resultado mais provável para um blog no final dos anos 2010.
Ontem eu sonhei com o Saramago. José Saramago. O escritor português conhecido pelos longos parágrafos e pelo uso não convencional das vírgulas.
Não me lembro do seu rosto ou da nossa interação (ou se alguma ocorreu). Só sei que era ele ali, marcando presença na minha mente durante o sono.
Ele apareceu em meu sonho sem mais nem menos. Faz semanas que iniciei e interrompi a leitura de o Memorial do Convento (fui até a metade do livro). Vou retomá-la mais adiante.
Falando assim, dou a impressão de que me refiro a um conhecido, um familiar, um amigo. A verdade é que me sinto íntima do Saramago quando visito suas obras.
Para além de seu estilo único de escrita, admiro seu modo de narrar, sua ironia, a crítica política e social sempre presente em seus textos. Toda vez que leio um livro do autor, acabo acreditando que posso saramaguear, que sou capaz de criar uma obra significativa; começo a ter ideias e vontade de ousar.
Tem dias que a gente acredita numa vida mais bonita fazer além de acordar às seis bater o ponto repetir o mesmo gesto manter a fila de produção até perder o senso crítico e supor que acaba ali o nosso papel esperar o primeiro dia útil pagar as contas os empréstimos se sobrar dinheiro dá pra pedir comida pelo delivery contar os dias para as férias e fazer aquela viagem comprada no cartão de crédito em doze prestações
Tem dias que a gente descobre a vida não se esgota nas oito horas diárias nas quarenta semanais a gente pode fazer mais alguma coisa que encante acenda uma luz pequenina na mente no coração de alguém distante alguma coisa relevante que nos faça ser lembrado admirado que ajude a mudar o mundo que nos faça gritar: eu nasci pra isso essa é a minha missão
Sinopse: Bagageiro, no Recife, é onde se leva todo tipo de coisa em cima da bicicleta: mercadoria, botijão de gás, criança etc. Neste Bagageiro, encontramos uma coletânea de pequenas histórias, entremeadas por comentários – por vezes mordazes – sobre a escrita, o país, o mundo, a vida literária e não literária. Classificados pelo autor como “ensaios de ficção”, os textos reunidos nesta obra fazem parte de um gênero atípico, misturando críticas à realidade, toques de humor sagaz e prosa poética, tudo isso com o estilo único e brilhante de Marcelino Freire. Segundo o jornal Estado de S. Paulo, em Bagageiro, “os contos/ensaios retratam personagens muitas vezes afligidos pela desigualdade social ou mesmo desamparados em relação à sua arte [...]. Os contos mais carregados são alternados com os ensaios de ficção, reflexões agudas e divertidas sobre escritores e o meio literário, e chistes mais ou menos pornográficos.” É um livro divertido e delicioso de ler.
Juro que tudo o que eu escrevo é verdadeiro. O mentiroso sou eu (p. 122).
Em Bagageiro, Marcelino Freire reúne textos distintos, que chama de ensaios de ficção. Como ele próprio esclarece (e eu não sei mais onde — já virei o livro de ponta-cabeça e não acho o trecho), bagageiro é onde se leva todo tipo de objeto na bicicleta. Do mesmo jeito, no Bagageiro do Marcelino cabe um monte de coisas.
Marcelino Freire nasceu em Pernambuco e vive em São Paulo desde o início da década de 1990. Além de Bagageiro, publicou Angu de Sangue (Ateliê Editorial, 2000), Contos Negreiros (Record, 2006) e Nossos Ossos (Record, 2013), entre outros livros.
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