Revi essa foto na casa dos meus pais dias atrás, uma foto impressa, do tempo em que revelávamos nossas fotografias e as guardávamos em álbuns de papel.
Essa imagem desbloqueou a memória da infância e pré-adolescência. Por isso, tirei uma foto da foto para guardar comigo, no meu arquivo eletrônico.
Esse aí, todo posudo, era o meu melhor amigo daquela etapa da vida — e isso não é mero clichê. Ele era quem me acompanhava em passeios pelas ruas do bairro, em brincadeiras solitárias.
Olhando em retrospecto, eu era uma criança introvertida (não que isso tenha mudado tanto com o tempo). A diferença de quatro anos entre minha irmã e eu quase sempre nos colocou em fases diferentes, com interesses diferentes, à medida em que crescíamos. E meus maiores interesses ficavam circunscritos ao espaço da casa (tevê e criação de histórias) ou das proximidades (leitura de textos bíblicos na missa semanal e passeios com ele).
Já ouviu falar em um gigante de mais de duzentos anos que vive no litoral piauiense, mais precisamente no município de Cajueiro da Praia?
Batizado de Cajueiro-Rei, essa árvore centenária foi reconhecida, em 2016, como o maior cajueiro do mundo, com base em estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), da Universidade Estadual do Piauí (Uespi) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os pesquisadores analisaram as folhas de diferentes locais da planta, fizeram medições da área e do perímetro ocupado por ela e, com isso, provaram que, embora pareça se tratar de uma porção de árvores juntas, ali há um único pé de caju com diversos troncos.
Sempre tive reservas quanto ao termo “amigo(a)”. Não concedia a todo mundo o título, ainda mais precedido de um adjetivo. Talvez por um trauma de infância. Ou por um pressentimento: amizade é relação rara, difícil de cultivar. Não pode ser solicitada (ou confirmada) clicando-se em um botão.
Amizade se constrói pouco a pouco, com a ajuda e o empenho das duas partes. Se a parede é erguida toda de um lado e do outro, só pela metade, o prédio ficará torto e corre o risco de tombar. Depois da queda, é mais trabalhoso levantá-lo novamente.
É uma coisa curiosa. Duas pessoas se encontram por acaso. Mesmo não partilhando a genealogia e não tendo obrigação de ficar, resolvem entrar e permanecer uma na vida da outra. Fazem isso apesar de suas diferenças, das falhas que cada uma delas tem.
Ouvindo o Gonzaguinha pela milésima vez, refleti de novo sobre a letra da música. Meu coração explode quando ele canta: “é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá”. Emocionada, ponho-me a pensar nas gentes que participaram da minha trajetória, que contribuíram para a formação do meu eu. Quantas histórias se entrelaçaram à minha!
No dia a dia, temos uma sensação de independência, somos adultos afinal, as nossas conquistas são resultado do nosso esforço, da nossa inteligência ou da nossa sorte. Na realidade, não somos tão autossuficientes. Tanta história rolou antes da nossa chegada à Terra, tanta gente lutou, sofreu e morreu para que o mundo fosse como o vemos hoje (não que seja o ideal; poderia ser pior). No campo particular, até nos tornarmos donos do nosso próprio nariz, outros seres humanos nos seguraram, nos guiaram, fizeram as atividades mais básicas em nosso lugar. Mesmo quando já nos consideramos capazes de caminhar com os nossos próprios pés e nos manter vivos sem auxílio, encontramos semelhantes que nos mostram outras formas de ver as coisas ao redor, nos influenciam, nos dão a mão. Carregamos um pouquinho de cada um(a) que cruza o nosso caminho e deixamos um pedacinho de nós por onde passamos.
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