Sinopse: Esperança Garcia foi uma mulher que viveu escravizada em meados do século XVIII, no Piauí. No dia seis 6 de setembro de 1770, ela escreveu uma carta para o governador de sua província, denunciando os maus tratos que sofria constantemente e solicitando providências.
Sua carta é uma das diversas manifestações espontâneas dos negros contra a escravidão, em sua luta pela liberdade. Trata-se de um registro histórico e literário, considerado um dos primeiros textos afro-brasileiros de que se tem conhecimento. É considerada uma petição pública e, por causa dela, o Governo do Estado do Piauí determinou que, no dia 6 de setembro, seja comemorado o dia estadual da consciência negra. Além disso, a Ordem dos Advogados do Brasil reconheceu Esperança Garcia como a primeira advogada do país.
Enquanto a saraivada de pau corria em seu corpo, Esperança achou que iria morrer, mas lutou, procurando não demonstrar nenhuma fraqueza ou sinal de dor (LUIZ; AURÉLIO, 2023).
Entre os dias 29 de junho e 1º de julho de 2023, participei da 2ª Feira Literária de Barra Grande, em Cajueiro da Praia, Piauí. Fui apresentar o meu livro Os nós em mim e voltei com a bagagem cheia de novas histórias e novos conhecimentos.
A feira homenageou Esperança Garcia. Antes disso, eu já tinha visto que ela seria tema também do Salão do Livro do Piauí (Salipi), que acontece em Teresina neste momento e vai até o dia 20 de agosto.
Na Feira Literária de Barra Grande, percebi que pouco (para não dizer nada) sabia a respeito de Esperança Garcia. Essa constatação ganhou força quando acompanhei uma palestra de Elio Ferreira de Souza sobre a carta que Esperança escreveu e ouvi outro escritor falar sobre ela.
O outro escritor é João P. Luiz, que publicou a história em quadrinhos A voz de Esperança Garcia, em parceria com Bernardo Aurélio.
Quantas versões de histórias tradicionais (contos de fadas, fábulas, lendas) você conhece? Esses contos originários da tradição oral já inspiraram e seguem inspirando outras histórias. Saci e Iara, por exemplo, são personagens de O Sítio do Picapau Amarelo. Chapeuzinho Vermelho, para citar outro exemplo, já ganhou inúmeras cores (Chapeuzinho Amarelo, Chapeuzinhos coloridos etc.) e variações, assim como outras personagens de contos de fadas.
Essa inspiração não se restringe à literatura. Os contos populares são temas de filmes, desenhos animados, peças teatrais.
Em geral, essas novas versões são bem-humoradas, trazem uma crítica às versões originais ou tentam dar um ar politicamente correto às narrativas, cujo conteúdo, por vezes, não se adequa mais aos padrões atuais.
Nunca entendi quem
não sente que sente
não remói os acontecimentos
esquece as brigas
perdoa num zás-trás
não implica por qualquer coisa
não duvida das certezas
confia em coaches
não faz listas
não se organiza pelo Excel
anda de bicicleta elétrica
enlouquece por futebol
não curte música
se impacienta com séries de TV
vive em academia
toma chá em vez de café
ou toma café sem açúcar
não faz planos
não fala sobre trabalho
reclama de feriado
ama bloco de carnaval
come jiló
dança na frente de outras gentes
faz chá revelação
comemora mesversário
usa meia dúzia de reticências
Desconfio que por aí
alguém
diz de mim
coisas do tipo
Num movimento recíproco
não entende
quase nada deste ser humano
torce o nariz para as estranhezas
que carrego
(algumas com orgulho)
e eu nem quero tomar conhecimento
ou vou ruminar esse amargor
até perder o gosto
Levarei mais trinta anos
para desvendar
o enigma da convivência
O outro não sou eu
e eu não sou o outro
Somos conjuntos independentes
Não estou contida nele/nela
nem ele/ela em mim
Cabe-nos
mirar na interseção
ou, na sua falta,
se não for obrigada
seguir em outro rumo
e evitar a colisão
Sinopse: Um pouco antes das eleições de 1989, a protagonista deste romance migra de Porto Alegre para o Rio de Janeiro. Entre as duas cidades, entre a infância e a adolescência pobres, acompanhamos a trajetória de Estela em meio a uma sequência de violências, faltas e desamparos a que ela, a mãe e o irmão são submetidos. Manifestando suas inquietações com a vida, as perguntas da jovem perscrutam seu mundo e as dores que carrega. Na relação ambígua com a família, nos embates entre religião e liberdade: a força da escrita de Jeferson Tenório surpreende mais uma vez nesta narrativa sobre crescer num país cruel e desigual.
Estela vive em Porto Alegre com a mãe, Irene, e o irmão caçula, Augusto, quase abandonada pelo pai, que só aparece quando tem vontade. Ela sonha em ser filósofa, embora não saiba o que os filósofos fazem de fato.
As filósofas são assim: dizem palavras que só vão fazer sentido depois de terem feito certas voltas dentro da gente […] (p. 13).
Ao se mudar para o Rio de Janeiro com o irmão sob os cuidados da madrinha Jurema, uma ferrenha religiosa, Estela se vê na contradição entre temer a Deus e não sentir sua presença, entre obedecer à mulher que a acolhe e viver em liberdade.
Estela sem Deus é criação de Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele (Companhia das Letras, 2020), livro que lhe rendeu o Prêmio Jabuti. Além dessas duas obras, Tenório publicou O beijo na parede(Sulina, 2013).
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