"10" Post(s) encontrado(s) na categoria: Destaques

20 de outubro de 2023

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[Resenha] Capitães da areia

De Jorge Amado

“Prenda o leitor já na primeira frase” — essa dica não falta quando se trata de orientações para criar narrativas ficcionais. Embora de difícil execução, o conselho se sustenta quando se analisa a concorrência que se impõe aos livros (por exemplo, outros livros e as redes sociais), além da falta de tempo de que todo mundo se queixa. Uma obra que capta a atenção do leitor no primeiro encontro tem mais probabilidade de não se ver revendida num sebo ou esquecida numa estante. Em caso de livros ou autores célebres, essa característica pode não ter tanto peso. Mesmo que o início não seja tão cativante, a validação prévia da obra nos leva a acreditar que logo adiante nos depararemos com aquele tchã, aquele aspecto que faz a obra aparecer em listas de indicações. Entre mim e Capitães da areia ocorreu algo desse tipo. A minha leitura do livro começou arrastada, […]

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03 de outubro de 2023

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Ser como Antígona ou Miep Gies

Em mim só manda um rei: o que constrói as pontes e destrói muralhas (Sófocles, em Antígona). Antígona desafia o rei Creonte quando sofre uma injustiça e vai em pessoa ao palácio reconhecer sua desobediência. Não teme o castigo que virá daí; eu diria até que o deseja, pois ele comprova seu repúdio à tirania. “E me parece bela a possibilidade de morrer por isso”, ela declara. Assim como Antígona, em nome do bem, da justiça, do amor pelos amigos, Miep Gies desobedece às leis nazistas. No seu caso, no entanto, não é ela própria a vítima. Poderia então virar as costas e seguir a vida. Antígona e Miep são exemplos de personagens (uma real e outra fictícia) que olham de forma crítica para os acontecimentos, não se restringindo àqueles que lhe dizem respeito, e intervêm quando eles ferem a existência de alguém. “Não nasci para o ódio, mas para […]

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16 de agosto de 2023

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[Resenha] A voz de Esperança Garcia

De João P. Luiz e Bernardo Aurélio

Enquanto a saraivada de pau corria em seu corpo, Esperança achou que iria morrer, mas lutou, procurando não demonstrar nenhuma fraqueza ou sinal de dor (LUIZ; AURÉLIO, 2023). Entre os dias 29 de junho e 1º de julho de 2023, participei da 2ª Feira Literária de Barra Grande, em Cajueiro da Praia, Piauí. Fui apresentar o meu livro Os nós em mim e voltei com a bagagem cheia de novas histórias e novos conhecimentos. A feira homenageou Esperança Garcia. Antes disso, eu já tinha visto que ela seria tema também do Salão do Livro do Piauí (Salipi), que acontece em Teresina neste momento e vai até o dia 20 de agosto. Na Feira Literária de Barra Grande, percebi que pouco (para não dizer nada) sabia a respeito de Esperança Garcia. Essa constatação ganhou força quando acompanhei uma palestra de Elio Ferreira de Souza sobre a carta que Esperança escreveu e […]

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08 de agosto de 2023

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Duas obras baseadas em histórias tradicionais

Quantas versões de histórias tradicionais (contos de fadas, fábulas, lendas) você conhece? Esses contos originários da tradição oral já inspiraram e seguem inspirando outras histórias. Saci e Iara, por exemplo, são personagens de O Sítio do Picapau Amarelo. Chapeuzinho Vermelho, para citar outro exemplo, já ganhou inúmeras cores (Chapeuzinho Amarelo, Chapeuzinhos coloridos etc.) e variações, assim como outras personagens de contos de fadas. Essa inspiração não se restringe à literatura. Os contos populares são temas de filmes, desenhos animados, peças teatrais. Em geral, essas novas versões são bem-humoradas, trazem uma crítica às versões originais ou tentam dar um ar politicamente correto às narrativas, cujo conteúdo, por vezes, não se adequa mais aos padrões atuais.

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16 de junho de 2023

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Enigma da convivência

Por Eriane Dantas

Nunca entendi quem não sente que sente não remói os acontecimentos esquece as brigas perdoa num zás-trás não implica por qualquer coisa não duvida das certezas confia em coaches não faz listas não se organiza pelo Excel anda de bicicleta elétrica enlouquece por futebol não curte música se impacienta com séries de TV vive em academia toma chá em vez de café ou toma café sem açúcar não faz planos não fala sobre trabalho reclama de feriado ama bloco de carnaval come jiló dança na frente de outras gentes faz chá revelação comemora mesversário usa meia dúzia de reticências Desconfio que por aí alguém diz de mim coisas do tipo Num movimento recíproco não entende quase nada deste ser humano torce o nariz para as estranhezas que carrego (algumas com orgulho) e eu nem quero tomar conhecimento ou vou ruminar esse amargor até perder o gosto Levarei mais trinta anos […]

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17 de maio de 2023

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[Resenha] Estela sem Deus

Por Jeferson Tenório

Estela vive em Porto Alegre com a mãe, Irene, e o irmão caçula, Augusto, quase abandonada pelo pai, que só aparece quando tem vontade. Ela sonha em ser filósofa, embora não saiba o que os filósofos fazem de fato. As filósofas são assim: dizem palavras que só vão fazer sentido depois de terem feito certas voltas dentro da gente […] (p. 13). Ao se mudar para o Rio de Janeiro com o irmão sob os cuidados da madrinha Jurema, uma ferrenha religiosa, Estela se vê na contradição entre temer a Deus e não sentir sua presença, entre obedecer à mulher que a acolhe e viver em liberdade. Estela sem Deus é criação de Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele (Companhia das Letras, 2020), livro que lhe rendeu o Prêmio Jabuti. Além dessas duas obras, Tenório publicou O beijo na parede (Sulina, 2013).

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13 de abril de 2023

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Tempo, tempo, tempo, tempo

Por Eriane Dantas

Que impiedoso o tempo Ele se move, sorrateiro e eu nem percebo Aí olho para a cara do meu filho e comparo com a foto de um ano atrás É o mesmo menino eu posso notar no olhar na boca no nariz nos traços que ainda estão lá Só não encontro mais o mesmo menino O rosto tem uma mudança um quê de amadurecimento o bebê se foi o corpo estirou ele já passa de um metro Faço então as contas quatro anos completos uma copa uma olimpíada uma eleição um censo uma pandemia uma guerra Coube tanto em 1.461 dias Por aqui tantas fraldas tantos sorrisos tantas lágrimas tantos porquês tanto orgulho tantas chinelas Havaianas E eu fico com a pergunta: por que a pressa, tempo?

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04 de abril de 2023

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[Resenha] O último dia de um condenado

Por Victor Hugo

O último dia de um condenado vivia ali há anos, esperando que eu o tirasse da estante para alguma coisa mais que limpar e reorganizar o acervo. Eu o comprei em uma promoção, sem qualquer indicação ou pista de seu conteúdo, apenas pelo nome do autor, que também é responsável por O corcunda de Notre Dame (1831) e Os miseráveis (1862). Esses dois títulos eu não li ainda, mas já vi filmes baseados em suas histórias. Conheço o autor francês pelos versos que inspiraram a canção do Frejat que era um dos hinos da minha adolescência. Subestimei O último dia de um condenado. Por isso, passei à sua frente tantos outros livros – até aquisições bem recentes. Mas o último carnaval serviu para o nosso encontro. E que encontro! Nessa obra, acompanhamos a narração dos últimos dias (não só um) – as últimas seis semanas, para ser exata – de […]

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08 de março de 2023

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Dois ensaios para enfrentar o 8 de março

Chegou o dia do ano em que recebemos as flores e os bombons, além das mensagens que exaltam a delicadeza e a força da mulher (Erasmo Carlos começou a cantar ao meu ouvido). O dia em que pessoas que nunca se preocuparam com a questão de gênero se convertem, de repente, em defensoras das lutas femininas. Oito de março é o dia vergonha alheia, que me deixa desconfortável e me faz rezar pelo dia nove. Passo as horas rolando o feed, fugindo dos parabéns e ignorando as mensagens “carinhosas”, em especial aquelas acompanhadas de rosas ou algo do tipo. Não, eu não sou contra o Dia Internacional das Mulheres. Muito pelo contrário. Aborreço-me com a distorção da data, com o uso mercadológico, com a farsa de machistas, com a tentativa de nos fazer esquecer a desigualdade e a violência que sofremos. Já escrevi outras vezes (aqui e aqui) sobre o […]

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24 de fevereiro de 2023

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[Resenha] Corpo desfeito

Por Jarid Arraes

Como se imagina a vida de uma menina de doze anos? Cercada do carinho da família, dedicada apenas aos estudos, às brincadeiras, às amizades e até a um despertar para a vida adulta. Bem, deveria ser assim. Sei que essa não é a realidade de todas as meninas, como não é a de Amanda, a protagonista do romance Corpo desfeito, da jovem escritora Jarid Arraes. Reconhecida poeta e cordelista, Jarid é um dos nomes da nova geração de escritores e escritoras do Brasil, uma representante nordestina que vem despontando no meio literário brasileiro. Corpo desfeito é o seu primeiro romance, lançado em 2022, pela editora Alfaguara, mas a autora também publicou As lendas de Dandara (Editora da Cultura, 2016), o livro de poesia Um buraco com meu nome (Jandaíra, 2018), a coletânea de contos Redemoinho em dia quente (Alfaguara, 2019) — vencedora do Prêmio APCA e do Prêmio Biblioteca Nacional […]

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