A viagem prossegue morna e o tempo se estira. A janela do ônibus reflete uma aflição desmedida. Paisagem estorricada, sequidão nos riachos, arremedos de bichos no esboçado dos pastos. O sol do quase meio-dia ignora a maquiagem, retocada de instante em instante. As poucas poltronas ocupadas seguem silenciosas. Quinze anos sem dar notícias. Uma ligação, a morte da mãe anunciada. Decidiu digerir rancores e reencontrar o sítio materno. Pela enésima vez, apruma-se na poltrona, revolve os cabelos, recruza as pernas. As horas riscam o azulado do horizonte. O trajeto remonta a figura do velho pai, olhos ressequidos, sobrancelhas grosseiras. Relembra o dia em que parou a lida e improvisou penteado numa espiga de milho. Apanhou para o resto da vida.
Continue lendo