07 de março de 2025

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Esse negócio de ser mulher

Você e eu 
diferimos
na roupa, 
na fala, 
no jeito de andar, 
no corpo, 
no percurso, 
nos desejos, 
na idade, 
no cabelo, 
no pensar.
Não conheço sua história, 
você ignora a minha,
mas entendo desse negócio
de ser mulher.
Posso apostar: 
você,
assim como eu,
vive ou viveu,
pequena ou grande,
uma privação,
uma agressão,
uma discriminação.
Assim como eu, 
você se empenha
por um modelo
nem meu nem seu
e se endireita
e alisa
e se envergonha
e pinta
e esconde.
Você, 
como eu,
acreditou
que combatemos
cada uma para um lado,
que deve se provar
acima de mim
e eu de você.
Aqui eu revelo: 
assim como você,
eu ambiciono direito,
sucesso,
respeito,
felicidade,
afeto.
Que tal 
lutarmos do mesmo lado?
Eu lhe dou a mão
para você não tropeçar
e você me levanta
quando eu cair.
E assim
apontamos
nossas armas
para o real adversário.
24 de fevereiro de 2025

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O que ele vai ser?

Como ele vai ser? O que ele vai fazer quando crescer? Às vezes eu me flagro com essas perguntas ao observar meu filho. Quando o vejo se interessar por livros, criar suas músicas, fingir que canta em inglês, dançar break no meio da sala ou se apresentar diante de um público, eu penso: vai ser artista. Quando ele se mostra entusiasmado por esportes, eu arrisco: vai ser atleta. Quando o escuto planejar as suas futuras invenções, que vão desde um robô ajudante até a fórmula da imortalidade, eu me pergunto: será que vai ser cientista?

Ele próprio já listou uma dezena de ofícios que pretende desempenhar: bombeiro, policial, cientista, músico, cozinheiro etc. Vai competir em todas as modalidades das Olimpíadas.

Se o percebo um pouco arredio, eu torço que não seja tímido como a mãe.

Quase sempre eu brigo comigo mesma. Assim como não me convém voltar ao passado, não é saudável viajar para o futuro, um futuro distante, ainda que o tempo vá se encarregar de encurtar essa distância. Não faz bem esse exercício de adivinhação.

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13 de fevereiro de 2025

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Rótulo

Sou feita de amor,
queria eu acabar aqui.
Ponto final.
Sou receita de um ingrediente só.
Porém minha embalagem
informa:
contenho alto teor
de medo,
alto teor
de raiva,
alto teor.
Sou feita de um barulho
que não consigo calar,
um barulho
que ecoa no poço
sem fundo
do meu pensamento.
Sou feita de culpa,
de um arrependimento
de coisa
que nem sei
e me ataca
a barriga
numa pontada quente.
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21 de janeiro de 2025

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Você se sente pertencente?

Ser parte de um grupo é uma necessidade inata do seres humanos. Segundo artigo de Julia Estanislau (2023), publicado no Portal de Divulgação Científica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), esse sentimento tem relação com reconhecimento: uma pessoa vê-se pertencente a um grupo ou a uma comunidade quando cria um laço com os outros integrantes, sente-se acolhida e respeitada em sua individualidade.

Para Dionei Mathias (2023), no artigo Pertencimento: discussão teórica, o desejo de pertencimento se inicia na relação entre mãe e bebê, na busca do novo sujeito pela confirmação do afeto materno. Depois se reproduz, de maneiras diferentes, nas demais interações sociais que o sujeito terá ao longo de sua vida.

Já a exclusão social, que é o oposto do pertencimento, ainda conforme o autor, ocorre quando o indivíduo não atende aos requisitos determinados pelos grupos dominantes (por exemplo, os populares ou, na atualidade, os influenciadores), aqueles que conseguem concentrar a atenção e definir o que tem ou não relevância. Quem se enquadra nessas regras detém maiores chances de se sentir pertencente.

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