12 de maio de 2022

0 Comentários

A mãe da Babi

Ilustração de Bianca Lana.

Mãe de alguém. Chega um momento na vida em que passamos a ser conhecidas assim, como se nos faltassem nomes. Meu filho ainda nem saiu das fraldas e eu já reparo nisso de vez em quando.

A mãe da Babi, de Um ipê de cada cor, vive essa experiência. Não sabemos o seu nome. Não sabemos muito sobre a sua história. Ela é a mãe da Babi e da Ana.

Mas nos inteiramos de seu ingresso no mundo materno, de sua preocupação em repetir os erros com a segunda filha, de sua forma de amar as duas.

Ainda no ensino médio, ela conheceu um garoto que se tornou um amigo inseparável. A amizade cresceu, se modificou e, de repente, como não é raro na juventude, os dois acharam que não viveriam um sem o outro. Da paixão veio a surpresa: logo o casal traria mais um ser ao mundo.

As ocorrências de gravidez na adolescência estão diminuindo no Brasil. No ano 2000, nasceram 721.564 crianças com mães na faixa etária de 15 a 19 anos (22,5% do total de nascimentos). Em 2010, esse número caiu para 525.581 (18,4%). Já em 2020, as adolescentes foram responsáveis por 364.074 novas vidas (13,3%). Mesmo assim, os dados indicam que ainda é alto o número de mães nessa idade, o que preocupa profissionais da saúde, da educação e de áreas sociais.

Para a mãe da Babi, a descoberta da gestação gerou insegurança, pânico, desespero. Acredito que esse seja o sentimento de muitas futuras mães nessa etapa da vida (e até em etapas mais avançadas).

Não é para menos. Ninguém pode julgá-la por se revoltar, por desejar outra realidade. Afinal, o que faz uma adolescente, cheia de planos, cheia de incertezas, com uma criança no ventre? Como se sente uma pessoa com uma responsabilidade tão grande (e para toda a vida) se ainda não amadureceu o suficiente nem sabe o que será do futuro?

A maternidade precoce pode afetar a vida das meninas, sua saúde, sua escolaridade, suas possibilidades de emprego e sua autonomia na fase adulta. Isso porque os seus corpos ainda não estão formados totalmente e porque a criação dos filhos pode exigir o abandono dos estudos e de outros projetos.

A mãe da Babi se saiu bem. Como toda mãe, como todo ser humano, ela nem sempre lida com as próprias frustrações e, por vezes, pode transferir para as filhas as suas angústias, as dores que são apenas suas. Seus pontos mais fortes, por outro lado, são o seu jeito de estimular a reflexão e a sua capacidade de entender a filha adolescente quando ninguém mais a entende.

De modo geral, o que se pode fazer para evitar a gravidez na adolescência é informar e orientar meninas e meninos desde cedo sobre sexualidade, sem medos e preconceitos, para que saibam se proteger e cuidar de si mesmos. São necessárias também políticas públicas de educação, cuidado e saúde, além do acolhimento e amparo das adolescentes, especialmente durante eventual gestação e após o nascimento dos filhos.

Como a própria mãe da Babi nos mostra, em qualquer circunstância, a estratégia mais eficaz é pensar, conversar e se esforçar para compreender a situação e o outro.

Referências:

DATASUS. Nascidos vivos no Brasil: nascidos vivos por residência segundo a idade da mãe em 2000, 2010 e 2020. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvuf.def

Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Reflexões sobre a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência 2021. 29 jan. 2021. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1210-reflexoes-sobre-a-semana-nacional-de-prevencao-da-gravidez-na-adolescencia-2021

***

Quer conhecer a mãe da Babi, a Babi e outros personagens? Então clica no link a seguir:

confira esses posts relacionados

Deixe seu comentário

© 2024 Histórias em MimDesenvolvido com por