
Ser parte de um grupo é uma necessidade inata do seres humanos. Segundo artigo de Julia Estanislau (2023), publicado no Portal de Divulgação Científica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP), esse sentimento tem relação com reconhecimento: uma pessoa vê-se pertencente a um grupo ou a uma comunidade quando cria um laço com os outros integrantes, sente-se acolhida e respeitada em sua individualidade.
Para Dionei Mathias (2023), no artigo Pertencimento: discussão teórica, o desejo de pertencimento se inicia na relação entre mãe e bebê, na busca do novo sujeito pela confirmação do afeto materno. Depois se reproduz, de maneiras diferentes, nas demais interações sociais que o sujeito terá ao longo de sua vida.
Já a exclusão social, que é o oposto do pertencimento, ainda conforme o autor, ocorre quando o indivíduo não atende aos requisitos determinados pelos grupos dominantes (por exemplo, os populares ou, na atualidade, os influenciadores), aqueles que conseguem concentrar a atenção e definir o que tem ou não relevância. Quem se enquadra nessas regras detém maiores chances de se sentir pertencente.
Aos atores sociais que se deslocam desse centro resta a negação do pertencimento. E isso independe do número de pessoas que os rodeiam, pois esse sentimento depende de aceitação e identificação com os pares. Com frequência, encontram-se nessa posição as pessoas que não se identificam com as narrativas correntes ou aquelas que compõem grupos minoritários.
Ruth, do meu livro Como libertar os passarinhos, vivencia essa história. Ela não se sente parte de grupo algum, percebendo-se distante, inclusive, de seu pai e sua mãe. Isso porque se vê diferente das pessoas com quem convive, como se nota em suas próprias palavras:
Você talvez ache bobagem. Tenho a sensação de que nasci em outro planeta e vim parar aqui por engano. Ou que sou parte de uma missão extraordinária. Só não fui avisada ainda. Esse mundo não é meu. (p. 85).
Essa percepção de Ruth é compartilhada por outros personagens, que, por vezes, deixam escapar uma incompreensão ou até uma reprovação do jeito de ser da adolescente.
O isolamento social, tal como o que Ruth vive, pode interferir no bem estar e ocasionar problemas de saúde mental, a exemplo de depressão e pensamentos suicidas, como explica Estanislau. No entanto, essa experiência não tem apenas consequências nocivas. De acordo com Mathias, ao serem excluídos, os sujeitos questionam-se os motivos da rejeição. Esse questionamento pode levá-los a construir o seu pertencimento de outro modo, embora essa construção não seja isenta de sofrimento.
Esse é um dos desafios de Ruth e de inúmeros jovens e adultos reais que não aceitam suprimir suas características únicas. Eles querem liberdade para expressar seus próprios pensamentos e escolher (e exercer) sua forma de ser e estar no mundo, ainda que o mundo se assente na grande exposição, na padronização e na valorização das aparências. Ao mesmo tempo, desejam ser amados e aprovados socialmente, assim como qualquer ser humano.
A participação em grupos também apresenta lados negativos. Para se integrarem ao coletivo, os indivíduos podem mudar suas atitudes, o que ocorre com constância na adolescência. Jonathan Haidt (2023), em seu livro Geração ansiosa, esclarece que a insegurança social dos mais jovens os torna vulneráveis às pressões e a atividades que prometam validação social.
Um efeito ainda mais extremo, de acordo com artigo publicado no Portal Universa, é agir de forma desumanizante, o que resulta do engajamento acrítico e da submissão extrema a grupos fechados e pretensamente superiores. Nesse processo, seus participantes podem ser capazes de desqualificar e excluir outras pessoas e outros grupos e até cometer crimes.
Uma maneira de diminuir a influência do coletivo sobre os adolescentes, conforme o artigo do Universa, é ajudá-los a desenvolver sua autoestima desde a infância. Isso exige espaço para a manifestação de ideias, dúvidas, medos, preferências, sem julgamento ou retaliação. Mães e pais devem conhecer o grupo de amigos de seus filhos e abordar os temas difíceis, mas substituindo a palestra por uma discussão aberta. Acrescento aqui outro ingrediente: o afeto, que perseguimos durante toda a nossa existência, desde a nossa primeira experiência social, e pode nos tornar sujeitos mais confiantes.

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