16 de junho de 2023

3 Comentários

Enigma da convivência

Por Eriane Dantas

Nunca entendi quem
não sente que sente
não remói os acontecimentos
esquece as brigas
perdoa num zás-trás 
não implica por qualquer coisa
não duvida das certezas
confia em coaches
não faz listas
não se organiza pelo Excel
anda de bicicleta elétrica
enlouquece por futebol
não curte música
se impacienta com séries de TV
vive em academia
toma chá em vez de café
ou toma café sem açúcar
não faz planos
não fala sobre trabalho
reclama de feriado
ama bloco de carnaval
come jiló
dança na frente de outras gentes
faz chá revelação
comemora mesversário
usa meia dúzia de reticências

Desconfio que por aí
alguém
diz de mim 
coisas do tipo
Num movimento recíproco
não entende 
quase nada deste ser humano
torce o nariz para as estranhezas 
que carrego
(algumas com orgulho)
e eu nem quero tomar conhecimento
ou vou ruminar esse amargor
até perder o gosto

Levarei mais trinta anos
para desvendar
o enigma da convivência
O outro não sou eu
e eu não sou o outro
Somos conjuntos independentes
Não estou contida nele/nela
nem ele/ela em mim
Cabe-nos 
mirar na interseção 
ou, na sua falta,
se não for obrigada
seguir em outro rumo
e evitar a colisão

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3 Comentários

  • Ana Luiza
    17 junho, 2023

    Adorei, Eri
    Mirar na interseção ou seguir outro rumo e evitar a colisão!

    • Eriane Dantas
      17 junho, 2023

      Muito obrigada, companheira!
      Nem sempre dá para ter interseção, né? Mas com você eu tenho muitas. 🙂

      • Ana Luiza
        16 novembro, 2023

        O que pra mim é uma honra e um privilégio!
        Amo vc, companheira!

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