Nunca entendi quem não sente que sente não remói os acontecimentos esquece as brigas perdoa num zás-trás não implica por qualquer coisa não duvida das certezas confia em coaches não faz listas não se organiza pelo Excel anda de bicicleta elétrica enlouquece por futebol não curte música se impacienta com séries de TV vive em academia toma chá em vez de café ou toma café sem açúcar não faz planos não fala sobre trabalho reclama de feriado ama bloco de carnaval come jiló dança na frente de outras gentes faz chá revelação comemora mesversário usa meia dúzia de reticências Desconfio que por aí alguém diz de mim coisas do tipo Num movimento recíproco não entende quase nada deste ser humano torce o nariz para as estranhezas que carrego (algumas com orgulho) e eu nem quero tomar conhecimento ou vou ruminar esse amargor até perder o gosto Levarei mais trinta anos para desvendar o enigma da convivência O outro não sou eu e eu não sou o outro Somos conjuntos independentes Não estou contida nele/nela nem ele/ela em mim Cabe-nos mirar na interseção ou, na sua falta, se não for obrigada seguir em outro rumo e evitar a colisão