Na infância, imaginamos os adultos bem-resolvidos, donos de si. Quando chegamos a essa etapa, porém, descobrimos: adulto é, em geral, uma criança que bate cartão, paga boletos e oculta sua infantilidade. Adultos não são imunes ao medo, à insegurança, aos traumas, à ansiedade, à vontade de chorar e espernear de vez em quando.
De tempos em tempos, reflito sobre o caminho que trilhei até aqui e idealizo o que encontrarei logo ali, à frente (não, esse trajeto não consta em GPS e mapas). Olho pelo retrovisor e comparo esta “eu” de hoje com aquelas que fui deixando para trás.
Já encarnei tantas versões. A lembrança de algumas me causa riso ou nostalgia; um punhado delas eu esqueceria de bom grado; outras, eu deveria viajar no tempo para consertar. De todo modo, elas não ficaram para trás de fato; vão no porta-malas, deslocando-se nas curvas, sacolejando nas estradas esburacadas.
Mais uma parada se avizinha, e eu me peguei pensando: esta versão que aqui se apresenta é a que mais se agrada de si mesma. E ela nem sempre se orgulha de seu reflexo, às vezes duvida daquilo que era certeza na noite anterior e vive em batalha com aquelas versões antigas, que tentam recuperar o assento dianteiro. Por vezes, não faz questão de esconder a sua criancice.
Ainda tenho muito chão para rodar, espero eu. No próximo ponto, quem sabe eu tope com versões mais parecidas com aquela fantasia dos meus primeiros anos. Afinal, se o destino for igual à origem, não faz sentido viajar. Os quilômetros percorridos também devem nortear a escolha das rotas.
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