Quando comecei a ler Nada me faltará, de Lourenço Mutarelli, veio à minha mente um pensamento: que livro genial! Todo narrado em diálogos e com um suspense que nos prende, a obra traz a história de um homem chamado Paulo, que desaparece na companhia da esposa e da filha. Depois reaparece sem se lembrar de nada (enquanto um ano se foi para as pessoas que ficaram, o tempo não passou para ele). As outras duas não voltam com Paulo, que não sabe responder sobre o paradeiro delas; não sabe dizer por onde andou, como se nunca tivesse ido a lugar algum.
Nada. Para mim, não aconteceu nada.
Sua mãe disse que você não se lembra.
Não me lembro de nada. É como se…
O quê?
Como se nada tivesse acontecido.
Como é esperado, todos ao redor começam, mesmo sem querer, a desconfiar do homem (a mãe, os amigos mais íntimos, a polícia e nós, leitores), ainda mais porque ele não demonstra interesse em desvendar o mistério ou preocupação com a esposa e a filha desaparecidas. Aliás, sequer suporta ser indagado sobre o tema.
Ou, pior, eles tentam de alguma forma jogar na minha cara que eu tenho responsabilidade, ou estou envolvido, ou deveria sair por aí e só voltar quando encontrasse a minha mulher e a minha filha, mas, por outro lado… se é que eu realmente fiquei um ano desparecido, então por que eles não foram atrás de mim? […]
Com isso, eu fiquei curiosa para chegar ao desfecho: afinal, ele é o culpado? O que ele teria feito com a duas? Repentinamente, porém, o livro se acaba, sem mais nem menos, do nada, sem explicação, sem uma conclusão. E eu me perguntei por horas (ou por dias) se fui eu quem não compreendeu a ideia do livro ou se meu e-book estava incompleto (talvez eu tivesse, por engano, comprado apenas uma amostra).
Ainda não sei, mas vi um comentário na internet com essa mesma observação. A impressão que tive foi de que o autor perdeu o fôlego e não conseguiu criar um final coerente com o enredo. Por isso, abandonou o trabalho no meio do caminho. Bem, considerando que Lourenço Mutarelli é um escritor de renome, talvez tenha sido sua intenção gerar esse questionamento ou deixar que cada leitor faça a sua própria interpretação e imagine o seu próprio final. Se for esse o caso, eu julgo essa uma estratégia arriscada. Entendo que o escritor ou a escritora não precisa (ou não deve) dar todas as respostas aos leitores; não pode, no entanto, negar as informações necessárias para a compreensão da história. Da minha parte, ficou apenas frustração, pois tive a sensação de que o autor não cumpriu o seu papel e quebrou a confiança entre nós. Senti-me enganada.
Sei que esta resenha soou um tanto dramática. Ela revela tão somente o meu sentimento em relação à leitura. Se alguém aí leu o livro e percebeu algo diferente, por favor, me socorra!
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