Sabemos da importância do convívio entre avós e netos, convívio este que foi afetado pela pandemia, especialmente em 2020. Não é possível generalizar coisa alguma nessa vida, mas essa relação em geral traz benefícios para ambas as partes. Para os mais novos, é a oportunidade de conhecer a origem da família, os costumes de outra época, aprender com a experiência dos mais vividos.
Eu não convivi de perto com todos os meus avós; apenas por um período com a minha avó paterna. E, mesmo assim, mesmo com dificuldades no contato com ela, minhas recordações dos meus avós são positivas. Até os episódios vividos com esta avó, em particular, e sua dureza tornaram-se histórias cheia de graça que conto aos outros; tenho na memória uma mulher resolvida e independente. A casa dos meus avós maternos, já falecidos, onde passei momentos memoráveis, continua sendo “a casa da vó”.
Para celebrar o dia dos avós, o dia 26 de julho, conferi os livros na estante que trazem os avós como personagens principais e descobri que há, no meu acervo, mais obras sobre o tema do que eu imaginava. Um aspecto chama a atenção: entre os cinco títulos que selecionei, quatro trazem avós (mulheres) e apenas um conta a história de um avô.
As cinco histórias que mostrarei a seguir retratam o companheirismo entre avós e netos, as lembranças da casa da vó, os ensinamentos desses familiares tão marcantes na vida dos netos.
1. Joaquim, o quindim da vovó
Em Joaquim, o quindim da vovó, escrito por Sâmella Freitas, ilustrado por ela mesma em parceria com Lupe Vasconcelos e publicado em 2021, acompanhamos Joaquim e sua avó, que vivem juntos, apenas os dois, em uma cidade pacata, cercados por animais e plantas.
A Vovó amava tanto o Joaquim que, sempre que ele ia brincar no jardim ou se afastasse da casa, ela amarrava a ponta de um novelo de lã no dedinho dele, para que não fosse muito longe e para que eles pudessem sempre ficar perto um do outro.
Os dois são unidos, até quando estão longe um do outro. Com um cordão preso ao dedo, Joaquim encontra o caminho de volta pra casa, pra perto da vovó. Assim, distância alguma pode separá-los. A avó se diverte com um gosto peculiar do neto e é a maior incentivadora do seu grande plano.
2. A avó amarela
Com texto de Júlia Medeiros e ilustrações de Elisa Carareto, A avó amarela (Ôzé, 2018) é como um livro de memórias. As ilustrações, que combinam desenhos e recortes, ampliam essa sensação.
A avó amarela tinha dentro dela um lugar reservado para o vazio.
De forma poética, a narradora nos conta suas lembranças da vó a partir do relato de um almoço de domingo. Pelos olhos de uma criança, que, por vezes, entende as expressões ao pé da letra, somos apresentados àquela avó, ao seu jeito de ser, ao seu modo de amar e acolher a família. Senti-me diante de uma pessoa conhecida, como se fosse a minha própria avó.
3. Grão
Escrito por Carla Kinzo e ilustrado por Rafa Anton, Grão (Pólen, 2015) narra uma história de admiração mútua entre uma avó e uma neta. Trata também da busca por inspiração, do encontro com a poesia.
Curiosa de versos, admirada do olhar da avó no papel, a neta pediu pra vasculhar seus outros poemas no caderno.
A menina se encanta com o jeito da avó de ver o mundo e transformar isso em palavras. A avó lhe dá papel e um poema como incentivo; ensina à neta como esperar a ideia. Nessa relação afetuosa, de conversas poéticas, germina o grão, nascem poemas, inclusive criados a quatro mãos.
4. O pássaro encantado
O pássaro encantado (Jujuba, 2014), parceria de Eliane Potiguara e Aline Abreu, valoriza a tradição dos povos indígenas. A representante dessa tradição é a avó, que aparece quando as crianças se assustam com o canto de um pássaro. Ela explica o significado daquele som, afasta o medo, resgata a ancestralidade, as memórias, os costumes do seu povo.
Era como se ele reconhecesse na Avó a Grande Mãe da Terra, aquela que tudo sabe e protege, a que tem a intuição como estrada e anda com a guerreira à sua frente contra qualquer perigo à sua espécie […] (p. 18).
Na história que narra às crianças, há outra avó, a Grande Avó, uma mulher de grande importância e sabedoria que ajuda os seus, especialmente as crianças, a se recuperarem do luto pela perda de um ente querido.
5. Vovô
De autoria de John Burningham, Vovô (Cosac Naify, 2012) retrata a relação entre uma menina e seu avô, trocando carinho, passeando, brincando e até brigando (acontece, né?). O vovô topa qualquer atividade pra divertir a neta; fala de seu tempo de infância.
Se eu pescar um peixe, vamos assá-lo para o jantar.
E se você pescar uma baleia, vovô?
A obra tem uma construção original. A cada virar de página, presenciamos uma nova cena, sem sequência, sem narração. Apenas as conversas entre eles dois (que revelam também as diferenças entre as gerações). De um lado, vemos em preto e branco, a imaginação ou as memórias dos dois personagens; do outro, em desenhos coloridos, vemos as ações.
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