[…] Eu não descreio um instante na obra do bem. Se a guerra ainda não desapareceu do mundo, é porque o mundo não tem feito outra coisa senão louvá-la, engrandecê-la (p. 146).
Com texto de Viriato Corrêa e ilustrações de Renato Silva, Cazuza é um romance destinado a crianças que mais parece uma coleção de causos narrados pelo protagonista. São memórias de sua infância, divididas em três partes, desde quando vivia no seu povoado natal, à margem do rio Itapicuru, no Maranhão, passando pela Vila de Coroatá, até chegar a São Luís.
A obra contém histórias engraçadas, nostálgicas, ensinamentos e um tanto de histórias tristes também. Destaco a primeira experiência escolar de Cazuza, na escolinha do povoado. O professor é rígido em excesso, usa a palmatória com vontade e só causa medo nos alunos. Então Cazuza, que antes tinha uma visão romântica da escola, descobre que o ambiente escolar é um pesadelo. Por sorte, sua mãe determina que ele não vai mais estudar ali.
Tentei encarar o professor e um frio esquisito me correu da cabeça aos pés. O que eu via era uma criatura incrível, de cara amarrada, intratável e feroz (p. 32).
Depois Cazuza é levado para escolas distintas quando a família se muda para Coroatá e, mais tarde, quando é matriculado em um colégio interno na capital. Lá seus professores o inspiram e parecem companheiros mais velhos da turma, ou seja, são o contrário do primeiro docente.
Em qualquer desses lugares, Cazuza se mostra um menino que gosta de fazer amizades, que se aplica nos estudos, mas que também apronta, como toda criança.
Devido à época em que foi publicado (1938) e à época que retrata, encontramos, no livro, falas preconceituosas do narrador e a glorificação de figuras como os bandeirantes no discurso de um professor (o que não é muito diferente do que muitos de nós escutamos e lemos na escola). E, ao mesmo tempo, a crítica à escravidão e à guerra. Somos até contemplados com a narração da história de Luís Gama (embora com a mensagem de que, com força de vontade, podemos vencer os desafios).
[…] Ao negro, o Brasil deve grande parte da sua riqueza, da sua grandeza e da sua tranquilidade. E, em paga disso, que foi que se deu ao negro? A escravidão (p. 170).
O livro tem um tom leve e engraçado, mesmo quando trata de assuntos sérios, e uma linguagem que se aproxima da linguagem do dia a dia. Recomendo essa leitura a todo mundo, apesar do moralismo presente em diversas passagens. Os mediadores de leitura (mães, pais, professoras etc.) podem discutir com as crianças e os jovens essa característica da obra, ajudá-los a olhar criticamente para esse aspecto.
As histórias regionais me encantam, ainda mais quando se passam na própria terra do autor ou da autora (deve haver muito de Viriato Corrêa em Cazuza). Gosto de ler histórias que se inspiram na vida real, que trazem lembranças infantis, que retratam lugares e pessoas que não costumam aparecer nos livros.
Se quiser conhecer o livro, clique no link a seguir: https://amzn.to/43n8mXC
Deixe seu comentário