23 de fevereiro de 2021

12 Comentários

[Resenha] Cazuza

Por Viriato Corrêa

  • Título Original: Cazuza
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Ibep
  • Ano de Publicação: 2011
  • Número de Páginas: 223
Sinopse: Continuamente reeditado desde seu lançamento, em 1938, Cazuza é um livro que não envelheceu. Trata-se de um dos maiores sucessos da literatura infantojuvenil brasileira. Esta é a história do menino que dá título ao livro e que, depois de adulto, resolve escrever suas memórias de infância. Em estilo coloquial, franco e dinâmico (bastante diferente do estilo ‘’nobre’’ característico dos livros que circulavam como leitura para crianças e jovens), Cazuza foi uma das obras que abriram as portas da literatura infantojuvenil aos ventos da vida real.
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[…] Eu não descreio um instante na obra do bem. Se a guerra ainda não desapareceu do mundo, é porque o mundo não tem feito outra coisa senão louvá-la, engrandecê-la (p. 146).

Com texto de Viriato Corrêa e ilustrações de Renato Silva, Cazuza é um romance destinado a crianças que mais parece uma coleção de causos narrados pelo protagonista. São memórias de sua infância, divididas em três partes, desde quando vivia no seu povoado natal, à margem do rio Itapicuru, no Maranhão, passando pela Vila de Coroatá, até chegar a São Luís.

A obra contém histórias engraçadas, nostálgicas, ensinamentos e um tanto de histórias tristes também. Destaco a primeira experiência escolar de Cazuza, na escolinha do povoado. O professor é rígido em excesso, usa a palmatória com vontade e só causa medo nos alunos. Então Cazuza, que antes tinha uma visão romântica da escola, descobre que o ambiente escolar é um pesadelo. Por sorte, sua mãe determina que ele não vai mais estudar ali.

Tentei encarar o professor e um frio esquisito me correu da cabeça aos pés. O que eu via era uma criatura incrível, de cara amarrada, intratável e feroz (p. 32).

Depois Cazuza é levado para escolas distintas quando a família se muda para Coroatá e, mais tarde, quando é matriculado em um colégio interno na capital. Lá seus professores o inspiram e parecem companheiros mais velhos da turma, ou seja, são o contrário do primeiro docente.

Em qualquer desses lugares, Cazuza se mostra um menino que gosta de fazer amizades, que se aplica nos estudos, mas que também apronta, como toda criança.

Devido à época em que foi publicado (1938) e à época que retrata, encontramos, no livro, falas preconceituosas do narrador e a glorificação de figuras como os bandeirantes no discurso de um professor (o que não é muito diferente do que muitos de nós escutamos e lemos na escola). E, ao mesmo tempo, a crítica à escravidão e à guerra. Somos até contemplados com a narração da história de Luís Gama (embora com a mensagem de que, com força de vontade, podemos vencer os desafios).

[…] Ao negro, o Brasil deve grande parte da sua riqueza, da sua grandeza e da sua tranquilidade. E, em paga disso, que foi que se deu ao negro? A escravidão (p. 170).

O livro tem um tom leve e engraçado, mesmo quando trata de assuntos sérios, e uma linguagem que se aproxima da linguagem do dia a dia. Recomendo essa leitura a todo mundo, apesar do moralismo presente em diversas passagens. Os mediadores de leitura (mães, pais, professoras etc.) podem discutir com as crianças e os jovens essa característica da obra, ajudá-los a olhar criticamente para esse aspecto.

As histórias regionais me encantam, ainda mais quando se passam na própria terra do autor ou da autora (deve haver muito de Viriato Corrêa em Cazuza). Gosto de ler histórias que se inspiram na vida real, que trazem lembranças infantis, que retratam lugares e pessoas que não costumam aparecer nos livros.

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12 Comentários

  • Leandro MD
    16 junho, 2024

    Fora que este livro de 1938 é belamente ilustrado, eu sempre tentava copiar aqueles desenhos nos anos 80 e 90, e só hoje fui procurar quem era o artista, e descubro que é o Renato Silva, que desenhava as tiras de jornal A Garra Cinzenta, naquela mesma época — e tive o prazer de comprar uma coletâneas dessas HQs há uns 3 anos, e na época não percebi que era o mesmo desenhista de Cazuza, que eu curtia desde criança. Que emoção!

    • Eriane Dantas
      31 agosto, 2024

      Emocionante essa sua descoberta, Leandro.
      Também gosto das ilustrações do livro.

  • Leandro MD
    16 junho, 2024

    Li este livro na década de 80, nunca esqueci de suas histórias. Tenho o mesmo livro até hoje.

    Esta semana peguei-o de novo e reli alguns trechos, pois lembrei de um capítulo interessante em uma conversa com minha esposa (o do analfabeto que vende chinelas e já fala antecipadamente o preço caso o cliente pechinchasse — o assunto da conversa era juntamente a falta de raciocínio crítico).

    Inclusive na minha infância quase estudei em uma escola chamada Viriato Correa.

    Parabéns pelo blog.

  • Alan
    25 dezembro, 2022

    Estou adorando entregar no mundo da leitura tenho 34 anos de idade quero continuar lendo bastante até o fim da vida
    Obrigado

    • Eriane Dantas
      27 março, 2023

      Que maravilha, Alan! O mundo da leitura é realmente encantador. 🙂

  • Rainara Da Silva Oliveira
    17 novembro, 2022

    Este livro eu amei de mais

  • Raquel
    13 setembro, 2022

    Esse livro é maravilhoso. Estou lendo e amando ler e de já, tenho compartilhado as histórias com as crianças.

    • Eriane Dantas
      15 setembro, 2022

      Tem razão, Raquel.
      Agradeço por compartilhar sua opinião aqui.
      Um abraço.

  • Aparecida Costa-Campos
    26 abril, 2022

    Boa resenha, Eriane. Sou professora de Língua Portuguesa em turmas de EJA e estou trabalhando o gênero romance autobiográfico a partir de excertos dessa obra. Como você bem descreve, a leitura é tão leve e fluida que dá vontade de ler o livro de uma vez só.

    • Eriane Dantas
      30 abril, 2022

      Olá, Aparecida! Muito obrigada!
      Que atividade interessante! Acho que o livro foi uma ótima escolha para o trabalho.
      Um abraço.

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