
Quando eu tinha oito ou nove anos de idade, uma menina nova ingressou na minha turma da escola. Pequena e bonita, todo mundo se encantou por ela e desejou sua amizade (até os meninos, que não se misturavam com as meninas a não ser para implicar). Mas, vejam só, a novata olhou para mim, se aproximou e quis ser minha melhor amiga.
Assim foi. Como fazem as melhores amigas, andávamos sempre juntas, sentávamos lado a lado, brincávamos e conversávamos apenas nós duas, como se ninguém mais existisse na escola.
Outra menina resolveu fazer contato comigo um tempo depois. Não lembro como era, mas recordo que não havia qualquer coisa nela que eu reprovasse (ela sequer me inspirava antipatia). Por isso, dediquei-lhe minha atenção.
— É ela ou eu — disse minha melhor amiga ao perceber nossa conversa. Não gostou do que viu. Dizia não suportar a menina, sabe-se lá por que razão.
E eu obedeci. Não dirigi mais a palavra à outra menina. Optei por minha melhor amiga.
Certa vez, faltei à aula. Não sei por quê. Talvez estivesse doente. Nada incomum naquela época. Sofri bastante com problemas respiratórios na infância.
Um ou dois dias depois, retornei à escola, atrasada como sempre, por culpa da vizinha que me acompanhava todo dia: ela ainda estava começando a almoçar quando deveríamos estar de saída. Chegando lá, os outros alunos haviam cantado o hino nacional e se dirigido às salas de aula.
Ao entrar na sala, encontrei ocupado meu lugar, ao lado da minha melhor amiga. Sentada nele estava a menina que preteri na minha escolha, a menina que decidi ignorar. Ela e minha melhor amiga trocaram sorrisos e cochichos durante a aula. Saíram de mãos dadas para o recreio, e nenhuma delas voltou os olhos para mim.