Sábado, 13 de julho de 1985.
Marilu,
Depois do desastre que foi a conversa com seu pai, encontrei Teresa e disse que queria participar de suas reuniões. Não importava contra quem eles lutavam; eu também queria lutar. A luta por liberdade também me tinha feito sair de casa, embora eu não tenha refletido sobre isso antes de tomar a decisão.
Saí do hotel diretamente para a igreja ao lado, onde encontrei dezenas de homens e mulheres que alternavam sorrisos e uma expressão de tristeza. Teresa me explicou que seus companheiros tinham esperança de ver o país livre outra vez, mas o clima de repressão e o medo por vezes ofuscavam seus pensamentos positivos.
Um homem subiu ao altar e reafirmou a importância da resistência. Eles trilhavam o caminho certo e ninguém poderia esmorecer naquele momento. Relembrou os companheiros que não se encontravam mais ali, companheiros cujo paradeiro só podiam imaginar, e pediu que cada um dos presentes prosseguisse na batalha por aqueles que não podiam fazê-lo.
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Longe de mim exaltar a tristeza,
mas quem disse
que não se tira alguma valia
de um dia triste?
Diz a canção:
é preciso um bocado de tristeza.
Ela fala de samba;
eu falo da vida.
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- Título Original: Se deus me chamar não vou
- Gênero do Livro: Romance
- Editora: Nós
- Ano de Publicação: 2019
- Número de Páginas: 158
Sinopse: Quem vai te contar essa história é uma criança de 11 anos. O olhar fresco e bem humorado de quem ainda vê a vida como mistério está aqui, mas vá por mim: não subestime a solidão de Maria Carmem.
A aprendiz de escritora, enfrentando as angústias da “pior idade do universo”, irá te provar que é possível, sim, que uma menina seja mais solitária do que um velho. Ao menos uma menina que, como ela, cresce e cria suas perguntas entre os objetos de uma “loja de velhos”. Ali elas já nascem antigas, frescas e pesadas, doce feito da mais dura poesia. Maria Carmem nasceu no fim. Sendo assim, do que interessa a idade? Como ela mesma diz, “é possível que um lápis pareça estar novo, mas todo quebrado por dentro”.
É assim, toda quebrada por dentro, que ela desconstrói o mundo diante de si, o mundo adulto que cria regras e não as obedece, o mundo escolar, tudo: “na aula de matemática o problema dizia que um menino e uma menina precisavam calcular quantas laranjas levar ao parque se os convidados meninos comiam tantas e as meninas só mais tantas cada uma. [...]
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Acho que existem crianças mais solitárias que os velhos.
Imagine uma menina de onze anos, solitária, cheia de perguntas e ideias próprias sobre a vida e o futuro. Essa é a descrição de Maria Carmem, a narradora-protagonista de Se deus me chamar não vou.
Não pense, porém, que essa é uma obra para crianças. É uma obra para adultos narrada por uma criança e me fez recordar O olho mais azul, de Toni Morrison, embora os enredos dos dois livros não sejam semelhantes. Recordei este livro apenas pela escolha narrativa e pela possibilidade de refletir sobre o mundo pelos olhos de uma criança.
Se deus me chamar não vou também não é uma história relacionada a religião, como o título pode levar a supor, mas traz questionamentos da menina acerca da existência de Deus. É um texto fluido, que pode ser lido em pouco tempo.
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Uma das gratas lembranças da minha infância são os bolos com que minha mãe me acordava no dia do meu aniversário: bolos com glacê simples branco. O gosto não consigo recordar agora, mas ao pensar neles sinto um sabor de alegria, de amor, de dedicação.
Minha mãe sempre foi dedicada à família e dominou a cozinha com seu conhecido talento culinário. Talvez por isso eu não tenha me preocupado em aprender muito no campo da panificação e confeitaria (quem precisa aprender a fazer bolos quando tem uma mestre em casa?).
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