Li Eu sei por que o pássaro canta na gaiola quase todo dentro de um ônibus, indo ou voltando do trabalho. Ao final, Djamila Ribeiro me advertiu no posfácio que esse é um livro para ser apreciado “em doses, não é algo que se lê de uma vez” (p. 331). Ela tem razão, mas era tarde. Não consegui ler a obra devagar, apesar de sua densidade, e concluí a leitura em poucos dias, pois queria saber o que mais teria acontecido na vida de Marguerite Ann Johnson.
Então ele ficou quieto, e aí veio a parte boa. Ele me abraçou com tanto carinho que desejei que nunca me soltasse. Eu me senti em casa. Pelo jeito como ele estava me abraçando, soube que nunca me soltaria nem deixaria nada de ruim acontecer comigo. […] (p. 94).
A cada parágrafo que eu lia, sentia como se pudesse ver Marguerite em minha frente, falando ou vivendo a cena narrada, como se fôssemos amigas, e eu, sua confidente.
Um dia, depois de concluir um capítulo pesado, desci do ônibus meio cambaleante, meio sem chão, sentindo uma angústia inexplicável. Porém, capítulos à frente, vi-me arrepiada com o relato sobre um grupo oprimido que retoma sua coragem e seu orgulho.
Por outro lado, as palavras de Patrick Henry provocaram um efeito tão grande em mim que, mesmo tremendo, consegui me empertigar e cantar: ‘Não sei o rumo que os outros podem tomar, mas, quanto a mim, me dê liberdade ou me dê a morte’.
[…]
Estávamos no topo de novo. Como sempre, de novo. Nós sobrevivemos. As profundezas eram geladas e escuras, mas agora um sol forte iluminava nossa alma. […] (p. 208-209).
Eu sei por que o pássaro canta na gaiola é uma obra autobiográfica de Maya Angelou, que (como eu disse aqui antes) teve uma história de sofrimento e de luta e, ao longo da vida, desenvolveu muitos talentos. Mulher negra, batizada de Marguerite Ann Johnson e carinhosamente chamada de Maya, foi criada pela avó paterna no sul dos Estados Unidos e só mais tarde conheceu a mãe de verdade.
Nesse livro, nos deparamos com uma história tão bem narrada e, por vezes, tão inacreditável que parece até ficção. Nela, não vemos apenas sofrimento, como o daquele capítulo que me perturbou, acompanhamos Marguerite crescer de forma gradual e se libertar da gaiola na qual a aprisionaram. E é interessante perceber que a leitura e a escrita a ajudaram nesse processo de libertação.
É bonita a amizade entre Marguerite e o irmão Bailey (me fez até recordar a relação entre os irmãos Kambili e Jaja, de Hibisco roxo). É impressionante como Maya se reconstruiu, mesmo com a dor, com a ausência da mãe e com o amor contido da avó, e como soube encontrar algo de bom na atitude dessas duas mulheres tão diferentes e perdoá-las.
Houve dias nebulosos de não pertencimento para Bailey e para mim. Era ótimo dizer que ficaríamos com nossos pais, mas, afinal, quem eram eles? Seriam mais severos com nossas travessuras do que ela [a avó paterna]? Isso seria ruim. Ou mais tranquilos? Isso seria ainda pior. Nós aprenderíamos a falar aquela língua veloz? […] (p. 231).
Recomendo o livro a todos que apreciam histórias capazes de desestabilizar, de fazer pensar e chorar. Quero visitá-lo outra vez, mais adiante, agora para ler um bocadinho dele de cada vez, como Djamila sugeriu, e ter tempo de digerir cada capítulo do emocionante relato de Maya Angelou.
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