28 de janeiro de 2020

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Escritores de livros para crianças e jovens #1

Bartolomeu Campos de Queirós

Não faz muito tempo que ouvi o nome de Bartolomeu Campos de Queirós pela primeira vez, embora ele seja considerado um dos mais importantes escritores da literatura para crianças e jovens.

Bartolomeu Campos de Queirós nasceu em Papagaio, Minas Gerais, em 1941, e faleceu em Belo Horizonte, em 2012. Seu primeiro livro, O peixe e o pássaro, foi publicado em 1971. Depois vieram títulos como Correspondência (1986), Coração não toma sol (1987), Sei por ouvir dizer (2007) e Vermelho amargo (2011).

Quando busquei mais informações sobre o autor, li referências a sua prosa poética, que pude constatar nos três livros que apresento aqui. Todos eles fizeram parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e, já aviso, são “um montão de amontoado de muita coisa escrita”. Peguei os três emprestados na Biblioteca do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável pelo programa.

1. Até passarinho passa

Havia de tudo em nossa varanda: suspiros, suspeitas e sonhos. Menos o medo, pois a beleza era mais forte e não deixava o tempo nos assustar (p. 10).

Publicado pela primeira vez em 2003 pela editora Moderna, o livro Até passarinho passa compôs o acervo de 2005 do PNBE e, entre os três desta lista, é meu preferido. Foi ilustrado por Elisabeth Teixeira e ganhou prêmios, como o Altamente Recomendável, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), de 2003, e menção honrosa do Prêmio Jabuti em 2004.

Com ele somos levados para dentro de uma história cheia de lembranças da infância, de um tempo que passa devagar, de uma família que contempla, da varanda, o espetáculo da natureza enquanto conversa ou divide o silêncio.

Só isso já seria suficiente para tornar esse livro encantador, mas então somos apresentados a um menino apaixonado por passarinhos (e por um deles em especial).

E como eu amava esses passarinhos! Eram vírgulas delicadas pontuando o vazio e as suspeitas. Quando eles surgiam, em bando ou solitários, meu coração deixava de bater para não assustá-los […] (p. 19).

É linda a descrição do sentimento do menino pelo amigo passarinho, a sua admiração pela liberdade e pelo instinto daquele pequeno ser, a relação entre os dois: sem sentimento de posse, sem barulho, com uma proximidade suficiente apenas para um saber que o outro quer estar ao seu lado.

Não me pedia nada, esse amigo amado, nem se mostrava interessado em migalhas. Nossa felicidade era maior: estar face a face, sem susto ou posse. Trazia uma música na garganta, mas nunca pude escutá-la. Ele apreciava em silêncio minha varanda e a amava pelo que havia nela de frio, limpo e quietude (p. 20).

O livro acorda um sentimento de nostalgia. Apesar de esse ser um livro para crianças e jovens, é bem provável que os adultos encham os olhos de lágrimas ao acompanhar essa história, carregada de poesia e de imagens tão delicadas.

2. Indez

O mundo não estava dividido em dois, um para as pessoas grandes, outro para os miúdos. As emoções eram de todos […] (p. 8).

Indez foi publicado pela primeira vez em 1989. A edição que tenho em mãos, a 12ª (Global Editora, 2004), integrou o acervo do PNBE de 2005.

Nessa obra também acompanhamos a vida de uma família de hábitos simples, residente em uma cidade do interior, conduzindo seu dia a dia a partir das mudanças do tempo e dos costumes locais.

Assim vivia a família de Antônio. Escolheram estar ali, nesse pedaço de mundo aberto, recebendo recados da vida pela natureza. Aprendendo com as estações, as mudanças, as perdas, os enxertos (p. 14).

O personagem principal da história é Antônio, o filho caçula, que vemos nascer, crescer e se despedir da família para ir estudar fora. Vemos os cuidados redobrados com Antônio em seus primeiros anos idade, as receitas da madrinha para curar as doenças, a admiração do menino pelo pai, as brincadeiras inventadas pela mãe, o gosto de Antônio pelo aprender.

Antônio não era feio nem bonito. Falavam que era a cara do pai quando mais jovem. Outros viam o nariz da mãe, mais o queixo do avô. Outros diziam que parecia um anjo — benza Deus! — só faltando as asas (p. 11).

Esse livro é um belo relato de uma infância em uma cidade do interior do Brasil. Emocionam a linguagem tão bem-trabalhada e o resgate de brincadeiras, de crendices populares, da religiosidade do povo.

3. Tempo de voo

— [O tempo] passa mais rápido que voo de passarinho?
— Muito, muito mais. Passarinho pousa, repousa, dorme e torna a voar e volta ao ninho. O tempo não tem ninho. Ele está sempre acordado, viajando e vigiando tudo. Sabemos que ele existe porque modifica todas as coisas. O tempo troca a roupa do mundo. […] (p. 8-9).

Lançado em 2009 pela editora Comboio de Corda e ilustrado por Alfonso Ruano, Tempo de Voo fez parte do acervo de 2010 do PNBE.

Aqui assistimos à conversa entre um homem experiente e um menino curioso. Eles falam sobre o tempo, o tempo que passa rapidamente, sem nos escutar.

É também uma história cheia de poesia, que nos faz concluir que bom mesmo é ser criança e ter vontade de entender tudo e olhar para o mundo com olhos poéticos, até para o rosto de alguém que já viveu muitos anos.

— Por que seu rosto é trincadinho?
— Com o tempo, a pele fica cheia de carinhos que ele nos faz.
— Como? O tempo tem mão para fazer carinho?
— O tempo tem muitas mãos e penteia o universo inteiro. Ele tem mãos para acarinhar desde o agora até o sempre (p. 22).

Nesse diálogo, o personagem maduro revê e resgata seu eu infantil (ou será ele mesmo ali?). E o menino aprende, de um jeito romântico, coisas que podem nos parecer dolorosas, como o envelhecimento.

Essa é uma obra bem-construída, palavra por palavra, e merece ser lida e relida com calma. É uma ótima forma de refletirmos sobre a passagem do tempo, sobre o que ele faz conosco e o que fazemos com ele.

[…] Ele [o tempo] nos promete o dia seguinte. Esperar o amanhã faz o hoje ficar esperançoso […] (p. 18).


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