Acertar os seis números da Mega-Sena da Virada, conhecer outro país ou fazer um curso? Chegou aquela época do ano em que costumamos revisitar nossos sonhos. A caixa de sonhos então é uma leitura certeira para este momento.
[…] Sonho não é coisa pra gente sufocar; pelo contrário, é pra completar a vida da gente. […] (p. 41).
Com texto de Luci Guimarães Watanabe e ilustrações de Regina Rennó, o livro foi publicado em 1989 e se destina a jovens leitores.
Luci Guimarães Watanabe escreveu mais de vinte livros para o público juvenil, e seu primeiro romance para adultos, Sob a luz das candeias, saiu em 2017. Já Regina Rennó é escritora e ilustradora, tendo publicado mais de sessenta livros.
A estética de A caixa de sonhos me lembra os livros que víamos na escola antigamente, os chamados paradidáticos, com capa simples e ilustrações minimalistas e em preto e branco. No entanto, esse trintão é a prova de que não se deve julgar pela aparência.
O livro é gostoso de se ler. Nele acompanhamos as histórias de um grupo de amigos (Raquel, Alexandre, Scylla, Evandro, Eliene, Juarez, Bete e Sérgio) que moram em uma cidadezinha chamada Matagal e podemos conhecer (ou revisitar) exemplos de preocupações e aspirações de jovens de três décadas atrás.
Como o nome sugere, não acontece muita coisa na cidade, e o divertimento dos jovens amigos é se encontrar, à noite, na praça. Lá eles conversam sobre sua falta de perspectivas, sobre o tédio que sentem ao ver os dias se passarem da mesma maneira.
— Essa vidinha da gente aqui é um saco! Eu não aguento mais empilhar banana, cortar abóbora, pesar chuchu pra vender pra esse povo que chega lá sempre com a mesma cara: me-dá-um-quilo-de-abóbora; quanto-custa-esse-pé-de-alface?; quero-dois-quilos-de-chuchu… (p. 4).
Eles desejam sair da cidade e realizar seus sonhos em outro lugar, mas fala mais alto a lealdade aos pais, que, de alguma forma, precisam dos filhos para continuar tocando a vida (ou é isso que os filhos pensam).
— É… acho que nosso grupo poderia se chamar ‘os indispensáveis’ — brincou Evandro. — Olhem o meu caso: aquele cartório é o único em não sei quantos quilômetros ao redor. Se eu for embora hoje, amanhã meu pai não abre mais as portas. Eu sou o braço direito dele, e o esquerdo também… desde que ele perdeu a perna naquele acidente… (p. 3).
Isso permanece assim até quando eles começam a escutar um barulho, como de um sino soando, e Matagal recebe um estranho, cuja presença no meio da praça causa curiosidade e atrai visitantes para a cidade.
Há um elemento mágico na história, a caixa, que todos querem descobrir o que guarda e que, ao mesmo tempo, é capaz de mudar a vida das pessoas, de fazê-las resgatar os sonhos que nem esperavam realizar.
A história nos faz refletir sobre o poder da esperança. Será que alcançaremos nossos sonhos se pensarmos neles com muita firmeza ou é necessário também um evento além do nosso controle?
— Ele começou a acreditar que ia ganhar um [potro], entende? Uma semente de esperança… (p. 43).
Acredito na importância dos sonhos, pois eles nos movem e completam a nossa vida (como diz o pai de Bete no trecho que citei no início deste texto). Por outro lado, acho que precisamos alimentar sonhos possíveis, sonhos que não dependam da sorte ou da ação de outras pessoas, e ter consciência de que, mesmo assim, alguns deles não se realizarão. Do contrário, nos frustaremos e nos sentiremos sufocados, como aqueles personagens, ao ver que a nossa realidade não corresponde àquilo que desejamos.
Enfim, recomendo A caixa de sonhos não só aos jovens, já que o livro nos apresenta uma bela história sobre transformação da vida e também traz aos mais velhos um pouco de nostalgia.
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