Sentada à mesa, Clara encara uma folha de papel em branco. De vez em quando, dá uma olhada na mãe, sentada no sofá, e retorna o olhar para o papel. Será falta de inspiração seu problema?
— Mãe, você disse pra eu escrever a cartinha pro Papai Noel, mas tô aqui com uma dúvida: como é que você sabe o endereço dele?
— Ah, não precisa de endereço. Basta escrever aí que é pro Papai Noel e pronto.
— E como que o carteiro vai chegar até lá?
— Ele já sabe pra onde levar as cartas.
— Como ele vai levar as cartas de todas as crianças do mundo até o Papai Noel?
— Bem, ele vai de caminhão ou às vezes de avião.
— Não ia ser mais fácil a gente mandar um e-mail ou uma mensagem pelo celular?
— Clara, o Papai Noel vive isolado, no Polo Norte. Lá não tem internet nem celular.
— Essa era outra coisa que eu ia perguntar: como o Papai Noel chega aqui na noite de Natal, vindo lá do Polo Norte?
— Ele vem no trenó, você já sabe.
— Sei. Com as renas. Mas como ele chega aqui se aqui não tem neve? E como ele consegue ir a todas as casas numa noite só?
— É que o trenó é mágico.
— Entendi. Mas dizem que ele entra pela chaminé. Aqui em casa não tem chaminé. Então como ele entra aqui?
— Onde não tem chaminé, ele entra pela janela.
— Mãe, e por que ele usa aquela roupa? Deve morrer de calor quando chega aqui.
— Clara, o Papai Noel não sente calor, não sente frio, nada.
— Por quê? Ele tem alguma doença?
— Não, Clara, ele é mágico, como o trenó dele.
— Ah, ele é mágico. É por isso que ele sabe se a gente se comportou ou não?
— É, é por isso mesmo. Ele sabe de tudo.
— Mãe, como o Papai Noel tem dinheiro pra comprar tantos presentes? Você não vive dizendo que tá todo mundo sem grana?
— Tá mesmo, mas o Papai Noel não precisa de dinheiro. Ele fabrica os brinquedos na casa dele.
— E se uma criança não pedir brinquedo?
— Bem, ele faz também. Ele fabrica tudo o que as crianças pedirem.
— Então, se eu pedir pro meu pai voltar pra casa, o Papai Noel vai fabricar esse presente pra mim?
— Clara, eu tenho que arrumar a casa, fazer o almoço, colocar o lixo pra fora, lavar a roupa. Depois a gente conversa, tá, filha?
Clara não se cansa e segue a mãe pela casa.
— Mãe, tava pensando aqui: e aquelas crianças que a gente sempre vê ali na praça, elas não escrevem pro Papai Noel?
— Já chega, Clara, vou dizer logo. Papai Noel não existe. Está bem? Não existe. Sou eu que compro o seu presente todo ano e coloco embaixo da sua cama. Sou eu. Não o Papai Noel.
— Que bom, mãe!
— Bom?
— Sim. Que bom que você não acredita em Papai Noel. Eu tava sem saber como contar a verdade pra você.
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