Sempre termino a leitura de um livro de José Saramago com a impressão de que alguma coisa mudou em mim e com o sentimento quase infantil de que posso criar histórias tão inspiradoras como ele fez.
Em A viagem do elefante, o autor não decepciona. Vejo ali seu estilo de escrita, que o distingue dos outros escritores e que, por vezes, assusta os leitores; vejo também a ironia e a crítica social que encontrei em todas as outras obras suas que já conheci. Há, porém, algum aspecto que diferencia essa das outras histórias e que não sei apontar com certeza.
Nesse seu penúltimo romance, publicado em Portugal dois anos antes de seu falecimento, Saramago transformou um fato histórico do século XVI, do qual não se conhecem tantos detalhes, em uma fábula cheia de humor, ironia e reflexão.
O personagem central é Salomão, um elefante indiano com o qual D. João III, rei de Portugal, e a rainha Catarina, sua esposa, presentearam o arquiduque Maximiliano II da Áustria. Salomão já não era uma novidade por aquelas bandas e naquele momento vivia isolado em um cercado, na companhia de seu cornaca (tratador) Subhro. A ideia do presente então surgiu como solução para o problema de manter ali um animal imenso, que já não causava curiosidade e que consumia forragem e água aos montes.
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