Ivan Ilitch vive uma vida normal e bem-sucedida do ponto de vista da sociedade: tem um bom emprego e uma família. Então vai seguindo até perceber que talvez sua vida não seja tão feliz. Em vez de reclamar ou tentar mudar o seu destino, entretanto, ele escolhe se acomodar e se entregar ao trabalho, o seu escape.
Isso muda quando é acometido de uma doença mortal, de uma dor lancinante, que vem e traz a solidão, o medo da partida. Ao contrário do que se espera, sua família e seus amigos lhe viram as costas — sua esposa chega a torcer por sua morte. Com isso, ele começa a se questionar sobre sua existência: fez o que era certo, mas será que viveu como deveria ter vivido?
Tenho pensado (já há um bom tempo) a respeito desse aspecto: a vida é isso mesmo? Ou há algo mais a ser vivido? Esse questionamento, por vezes, se interrompe quando encontra a ideia de que não devo reclamar; devo ser grata pelo que tenho, por tudo o que me acontece (até pelos fatos negativos).
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Ela partiu ontem
num foguete rumo à Lua,
passou entre as nuvens,
enfeitou os cabelos com estrelas,
debochou da lei da gravidade.
Você mandou uma mensagem de rádio:
Seu brilho é tão intenso,
que nem preciso de telescópio
pra te ver aqui de baixo.
Surgiu ali uma porção de orgulho,
orgulho que raras vezes se viu
naqueles olhos que só miravam
os próprios pés.
Hoje ela despencou do alto.
Não olhe aí de cima
pela janela do seu foguetinho —
foi seu novo recado —,
não deixe a empáfia te levar
pra fora da galáxia.
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Você e eu só temos em comum o desejo de escrever, o desejo de menos injustiça. De resto não posso mensurar sua experiência de fome, preconceito e miséria.
Mas senti sua dor nos relatos do dia a dia na favela, no estranhamento na casa de alvenaria.
Sempre que posso falo de você, da sua força, do seu sonho, da verdade em suas palavras, da atualidade dos seus escritos, que datam de mais de meio século. Queria que todo mundo, gente jovem, gente velha, pobre, rica, classe média, lhe fizesse uma visita.
Nascemos separadas pelo tempo. Quando vim ao mundo você já tinha partido dez anos antes e ninguém me apresentou a você. Nosso primeiro encontro foi há cerca de cinco anos, antes que o planeta entrasse em um pesadelo do qual tememos nunca mais sair.
Vi na sua história uma história que não apenas se conta, uma história que ainda se vive neste país tão desigual, embora optemos por fechar os olhos às vezes.
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A história da mulher é de ocultamento, seja na cozinha da casa, atrás de um lenço, uma burca ou um vestido, atrás de um pseudônimo masculino, atrás de um dogma, atrás de uma imagem imaculada de mãe.
A história da mulher é de paradoxos. Considerada frágil e perigosa ao mesmo tempo. Ora santa, ora pecadora. Maria gerou o filho de Deus. Eva seduziu Adão. As bruxas foram queimadas na fogueira. E até hoje uma mecha de cabelo feminino intimida a virtude masculina.
Não é contraditório que o mesmo corpo que concebe vidas seja símbolo de tentação? O corpo feminino é usado, controlado, podado, interditado. Quantas regras são impostas a nossos corpos?
Mulher sempre foi tratada como posse. “Minha mulher”, dizem eles. Antes elas quase não tinham escolha, hoje não podem escolher terminar uma relação. Isso pode sentenciar sua morte.
Mulher leva a culpa até quando é vítima. Por que ela não foi embora? Por que retornou? Por que saiu sozinha? Por que vestiu aquela roupa? Por que não disse não? Por que disse sim? Por que não se protegeu? Por que não pediu ajuda? Por que deixou chegar a esse ponto?
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